A operação da Polícia Federal (PF) deflagrada nesta quarta-feira por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, traz as evidências de seu envolvimento com o crime organizado que comanda o comércio ilegal de madeira na Amazônia e torna insustentável sua permanência no cargo.
No despacho do ministro do ministro Alexandre de Moraes, do STF, autorizando a operação, a PF mostra um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que identificava operações suspeitas nas contas do escritório de advocacia de Salles. Esse documento foi apresentado pela PF ao STF. Segundo a polícia, algumas movimentações envolvem agentes púbicos que são investigados neste caso. As contas de Salles movimentaram mais de R$ 14 milhões, o que aumenta as suspeitas de prática de corrupção.
“Ressalto, por oportuno, que o RIF n. 60322.2.2536.4046 (Volume VIII) envolvendo o agente público com prerrogativa de foro (Ministro do Meio Ambiente) indicou movimentação extremamente atípica envolvendo o escritório de advocacia cujo Ministro de Estado é sócio (50%), durante o período
compreendido de 01/01/2012 a 30/06/2020, em valores totais de R$ 14.162.084,00 (catorze milhões, cento e sessenta e dois mil e oitenta e quatro reais), situação que recomenda, por cautela, a necessidade de maiores aprofundamentos”, diz o texto.
Acompanhado de um advogado, Salles chegou a ir até a superintendência da PF em Brasília em busca de informações, mas deu com a cara na porta. Foi informado que apenas o STF poderia lhe fornecer mais dados sobre a operação. Em seguida, seguiu para o Palácio do Planalto para encontrar Bolsonaro. O presidente insiste em fechar os olhos para a ação criminosa do ministro e o seu envolvimento com os madeireiros ilegais na Amazônia.
A ação da PF ocorre apesar dos esforços de Bolsonaro em tentar aparelhar a polícia. Recentemente, o capitão realizou várias trocas em cargos de comando da corporação, com o objetivo de blindar seu governo. Exemplo disso foi a saída de Alexandre Saraiva da Superintendência da PF no Amazonas. Após comandar parte das investigações que apuram envolvimento de Salles em esquema de extração ilegal de madeira e denunciar o ministro no STF, Saraiva foi demitido do cargo.
Na famosa reunião ministerial de abril de 2020, Salles foi categórico: o governo Bolsonaro tinha que aproveitar a pandemia para passar a boiada e realizar uma série de mudanças em regras que poderiam ser questionadas pela Justiça. Salles até tentou. Mas Alexandre Saraiva, que participa das investigações, já tinha dito: na PF, boi nenhum iria passar. E não passou.