O DEM e o PSL aprovaram a fusão dos partidos em convenções realizadas na manhã desta quarta-feira (6), num processo que resultará na criação de uma nova sigla, a União Brasil,
No DEM, a decisão foi tomada pro aclamação, mas teve votos contrários ao estatuto do novo partido do ministro Onyx Lorenzoni (Trabalho) e dos delegados do Rio Grande do Sul. No PSL, houve aprovação por unanimidade. A votação no partido foi feita por cédulas, como determina o estatuto.
Em ambas as siglas, foram debatidos aspectos do estatuto da nova legenda, que se chamará União Brasil.
A partir da determinação das convenções, será formada uma comissão instituídora, que enviará o processo de fusão do DEM e do PSL ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A expectativa é que o partido seja oficializado pela Justiça até fevereiro.
“Vamos determinar bom senso para procurar o melhor caminho, a melhor saída, de composição para os estados a fim de que a União Brasil chegue a 2022 com a possibildade de ser o partido mais vitorioso nas urnas respeitando a história”, afirmou o presidente do DEM, ACM Neto.
Logo no início da convenção, antes de votar contra o estatuto, Lorenzoni pediu que a convenção já decidisse a decisão sobre o apoio à reeleição do presidente Jair Bolsonaro ou liberação de apoio a candidato que não seja apoiado oficialmente pelo partido, o que foi rejeitado.
“O pleito foi precocemente deduzido. É com todo respeito que assima afirmo, mas o certo é que ainda não chegou o momento para que possamos nos debruçar sobre esse tema. Ainda não chegou o momento para que o partido possa decidir sobre as eleições de 2022”, disse Neto.
Lorenzoni ainda pediu alteração no estatuto da União Brasil para alterar a composição da comissão executiva e do diretório nacional do futuro partido, o que também foi rejeitado.
O governador Ronaldo Caiado (Goiás) também solicitou mudança no estatuto para que todas as decisões do novo partido só sejam tomadas por decisões colegiadas aprovadas por 3/5 da executiva nacional do novo partido. Neto ficou de levar a demanda para avaliação da convenção conjunta de DEM e PSL, que também será realizada nesta quarta.
Uma vez consolidada a fusão, a tendência é que o PSL, que tem 53 congressistas na Câmara, perca cerca de metade da bancada, formada por apoiadores de Jair Bolsonaro (sem partido).
O DEM também deverá perder apoiadores. A expectativa de ambas as siglas, porém, é que outros quadros migrem para a nova legenda.
A ideia dos dirigentes do provável novo partido é lançar candidato à Presidência ou apoiar formalmente um nome que não seja Bolsonaro.
Nesse movimento, o DEM trabalhará para manter na legenda o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que tem sido assediado pelo PSD. E tentará trazer nomes relevantes, como Geraldo Alckmin (PSDB-SP), ex-governador de São Paulo, e Romeu Zema (Novo-MG), governador de Minas Gerais.
Com a união das siglas, o novo partido poderá ser o maior no Congresso.
A cúpula do DEM decidiu negociar a fusão para ter um “corpo que pudesse carregar seu conteúdo”, como afirmaram caciques da legenda à Folha reservadamente, após a perda de filiados de destaque em 2021 e a rejeição da volta das coligações partidária pelo Senado.
De um lado, o PSL deverá ter um dos maiores tempos de televisão em 2022, além de ter um robusto fundo eleitoral e partidário.
Do outro, o DEM, um partido que já teve momentos áureos no governo Fernando Henrique Cardoso, mas que hoje, com uma bancada de 28 deputados, não tem a importância que já teve um dia.
A fusão de ambas as siglas -com a incorporação do DEM ao PSL- , na avaliação de dirigentes do DEM, além de uma questão de sobrevivência devido a mudanças nas regras eleitorais, tem por objetivo garantir a relevância dos dois partidos após as eleições de 2022.
Isso porque o PSL foi nanico por cerca de 25 anos, desde a sua fundação, em 1994, até 2018, quando abrigou Bolsonaro na disputa pela Presidência da República.
A onda bolsonarista fez o partido eleger a segunda maior bancada da Câmara e, com isso, ter a segunda maior fatia da verba pública partidária e eleitoral a partir de 2019.
Porém, sem Bolsonaro, que rompeu com a sigla ainda em 2019, o PSL dificilmente terá desempenho perto do que conseguiu em 2018, mesmo com os cofres de campanha cheios.
As eleições municipais de 2020 foram uma prévia. O partido elegeu 90 prefeitos, nenhum deles em grandes cidades.
Já o DEM está longe dos áureos tempos dos anos 1980 e 1990, quando sob o nome de PFL (Partido da Frente Liberal) chegou a ter a maior bancada da Câmara e a presidir as duas Casas do Congresso, além de ter a vice-presidência da República.
Com a chegada do PT ao poder, o partido trilhou o caminho da oposição e acabou entrando em declínio.
Em 2007, na tentativa de se renovar, trocou o comando e mudou o nome para Democratas. Em 2014, chegou ao fundo do poço, tendo eleito apenas 21 deputados federais.
O partido ganhou um novo fôlego após o impeachment de Dilma Rousseff (PT), em 2016, e com a eleição de Rodrigo Maia (RJ) para a presidência da Câmara. Em 2019, venceu também o Senado, com Davi Alcolumbre (AP).
A sucessão de Maia, em 2021, porém, levou a um racha no partido. Seu candidato, Baleia Rossi (MDB-SP), acabou derrotado por Arthur Lira (PP).
Maia se disse traído por ACM Neto (atual presidente da legenda) nessa disputa, fez duras críticas e acabou expulso da sigla que presidiu de 2007 a 2011.
Além de perder o ex-presidente da Câmara, a sigla também viu a saída de Rodrigo Garcia (PSDB), vice-governador de São Paulo, e ainda teme que Pacheco deixe a legenda e vá para o PSD, pelo qual tem sido assediado.