Enquanto nas prateleiras dos mercados o preço da carne está nas alturas, no campo, os valores recuaram alguns reais. Isso porque as vendas do Brasil para a China foram suspensas, após casos suspeitos de vaca louca notificados em Minas Gerais e Mato Grosso.
A Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) já informou que as ocorrências não representam risco para a cadeia de produção bovina brasileira. Mesmo assim, a China mantém o veto há 47 dias.
1. Por que o preço da carne caiu nas zonas rurais?
A cotação do boi gordo recuou depois que a China parou de comprar carne bovina do Brasil, no dia 4 de setembro.
O país asiático importa quase metade das cerca de 2 milhões toneladas de carne que o Brasil envia a outros países, por ano e, portanto, todo movimento que a nação faz facilmente afeta nossos preços.
No campo, a arroba bovina chegou a fechar na quarta-feira (20) em seu menor valor no ano: em R$ 262,90, segundo levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP.
No varejo da cidade de São Paulo, entretanto, o preço da carne continua em alta. O produto subiu 0,62% na segunda semana de outubro, após ter avançado 0,42% na semana imediatamente anterior, mostram dados da Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
O analista Guilherme Moreira, coordenador do IPC, diz que, após a suspensão da China, no dia 4 de setembro, a proteína bovina começou a ter leves recuos, que já foram revertidos neste mês. “Então, se houve impacto, foi bem pouco. Na verdade, pode ter evitado novas altas”, diz.
3. E no longo prazo, como fica?
Por outro lado, o analista diz que, se a suspensão da China se estender por muito mais tempo, a tendência é que os frigoríficos comecem a colocar mais carne no mercado interno. Com mais proteína disponível, a tendência seria os preços caírem.
Na terça (20), o Ministério da Agricultura determinou que os frigoríficos habilitados para exportar para a China suspendam a produção para o país por 60 dias, o que sinalizou, para os analistas, que a paralisação do comércio pode durar mais.
“Não tem outro consumidor mundial que consegue comprar em quantidade e preço o que a China compra do Brasil. Então essa carne vai acabar indo para o mercado interno e o preço pode recuar de forma mais significativa”, ressalta Iglesias.
No início de setembro, quando ocorreu a suspensão, a cotação estava em torno de R$ 305, chegando a bater recorde em junho (R$ 322).
2. A queda vai chegar aos supermercados?
Nos supermercados ainda não se sabe se a queda vai chegar.
Mas, no estado de São Paulo, por exemplo, o preço no atacado já caiu porque uma parte do que seria embarcada para a China foi despachada para o mercado interno, conta o analista da Safras & Mercado Fernando Henrique Iglesias, que acompanha o setor.
Ele ressalta, entretanto, que a maioria da carne bovina ainda está parada em câmaras frias e contêineres nos portos, sem previsão de destino.
Iglesias pontua ainda que o reflexo do atacado para o varejo leva um tempo. Geralmente, os mercados esperam acabar o estoque adquirido por um preço mais alto para, então, reporem o produto comprado por um valor menor e, assim, decidirem reduzirem preço.
4. O que pecuaristas têm feito?
Quando se olha para o campo, a trajetória futura do preço da carne parece incerta e pecuaristas já diminuíram o abate de bois, que vem se acumulando nas fazendas, conta o analista de agro José Carlos Hausknecht, sócio-direto da MB Associados.
Por outro lado, Hausknecht diz que manter esses animais nas fazendas sai caro, especialmente porque, entre setembro e outubro, os bois que estão no campo são os de confinamento, sistema que tem gastos elevados com alimentação.
“Os bois continuam comendo e uma hora vão parar de engordar. Então, em algum momento, a indústria vai ter que abater. E com abate, entra mais carne no mercado, e os preços podem começar a cair no varejo”, diz Hausknecht.
Ele reforça, porém, que tudo isso é incerto. No caso de uma retomada rápida da exportação de carne para a China, por exemplo, a proteína nem chega a ser colocada no mercado e os preços continuam nos atuais patamares. “Tudo depende do tempo deste embargo”, diz.