Wilson Witzel diz que prisão de assassinos de Marielle é resposta para a sociedade
Ronnie e Élcio foram presos, na manhã desta terça, em uma operação conjunta da Divisão de Homicídios e do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (GAECO) do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro. Eles também respondem pela tentativa de homicídio de Fernanda Chaves, assessora da vereadora.
Segundo a polícia, Lessa foi o autor dos disparos que atingiram Marielle e Anderson, enquanto Élcio foi o condutor do Cobalt utilizado no assassinato. Os investigadores agora tentam esclarecer quem foi o mandante e qual a motivação do crime.
Marielle Franco e Anderson Gomes — Foto: Reprodução/JN
O chefe da Divisão de Homicídios da Capital, Giniton Lages, justificou o tempo que demorou para se chegar aos dois envolvidos. “Esse é um dia muito especial porque é um ano de investigação, um ano de comprometimento desses policiais. É preciso que a imprensa entenda que o sigilo em algumas informações é imprescindível. Jamais um profissional pode fazer uma perícia ou encontra um dado e revelar isso”, garantiu Giniton.
É importante ressaltar, contudo, que a polícia do Rio de Janeiro prendeu o suspeito de efetuar os disparos e o motorista do veículo, mas ainda não esclareceu quem foi o mandante das execuções. Em função disso, a Polícia Civil fará uma segunda fase de investigações.
Complexidade da investigação
Ainda segundo o delegado, na maioria dos crimes as testemunhas ajudam a solucionar, mas, nesse caso, a execução e o monitoramento não ajudaram.
“Não estamos diante de um crime passional. Não se trata disso. Percebemos isso desde o início. Determinados casos, pela complexidade, não vão fechar rápido. Foi necessário se concentrar no que aconteceu antes do crime.”, explicou Giniton, destacando que o inquérito tem 29 volumes de 200 a 230 folhas, cada.
Ainda de acordo com o delegado, os autores permaneceram dentro do veículo esperando por Marielle por duas horas.
“Em momento nenhum saíram do carro. Não saíram do veículo nem na hora do assassinato. A dinâmica mostra que esse era um crime fora do normal. Em 80% dos casos, os assassinos são solucionados por meio de testemunhas – e isso não seria possível nesse caso”, garantiu o delegado, enfatizando que Ronnie é um policial reformado que passou Batalhão de Operações Especiais (Bope), considerado a tropa de elite da PM do RJ.
Governador Wilson Witzel concede entrevista coletiva para detalhar prisão de suspeitos da morte de Marielle Franco — Foto: Henrique Coelho / G1
O delegado ainda destacou que as câmeras não foram desligadas propositalmente para dificultar a identificação dos culpados. “As câmeras hoje, como estão posicionadas, não servem à investigação. As câmeras são voltadas para a contagem de veículos e trânsito”, explicou Giniton.
Segundo ele, 2.428 antenas foram quebradas para monitorar celulares na investigação do caso. “Foram quebradas mais de 33 mil linhas telefônicas analisadas e 318 linhas telefônicas interceptadas”.
A polícia monitorou 443 Cobalts prata. Com os filtros de horário e local, os policiais chegaram a 126 carros, trabalhados um a um. “É só conversar com os proprietários de Cobalt. Todos foram visitados”, garantiu Giniton.
Segundo informações obtidas pelo G1, Ronnie e Élcio estavam saindo de suas casas quando foram presos. Eles não resistiram à prisão e nada disseram aos policiais.
Os policiais estavam de tocaia na porta do condomínio de Ronnie desde 3h. Às 4h, quando ele saiu de casa, acabou sendo preso. Segundo os agentes da Divisão de Homicídios que participaram da prisão, por saber que os mandados geralmente são cumpridos às 6h, Lessa tentou sair de casa ainda de madrugada para dormir em outro lugar e escapar da polícia.
Ronnie foi preso em sua casa em um condomínio na Avenida Lúcio Costa, na Barra da Tijuca, o mesmo onde o presidente Jair Bolsonaro tem residência. Élcio mora na Rua Eulina Ribeiro, no Engenho de Dentro.
Ronnie Lessa, apontado como autor dos disparos contra Marielle, e Élcio Queiroz, suspeito de dirigir o carro — Foto: Reprodução/TV Globo
A Operação Lume cumpre ainda 32 mandados de busca e apreensão contra os denunciados para apreender documentos, telefones celulares, notebooks, computadores, armas, acessórios, munição e outros objetos. Durante todo o dia, haverá buscas em dezenas de endereços de outros suspeitos.
Após a prisão de Ronnie, agentes fizeram varredura no terreno da casa dele e encontraram armas e facas. Detectores de metais foram usados para vasculhar o solo, e até uma caixa d’água passou por vistoria.
Crime meticulosamente planejado
Ronnie foi levado à Divisão de Homicídios do Rio por volta das 4h30. De acordo com os promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado, o crime foi meticulosamente planejado durante três meses.
A investigação aponta que Ronnie fez pesquisas na internet sobre locais que a vereadora frequentava. Os investigadores sabem ainda que, desde outubro de 2017, o policial também pesquisava a vida de Freixo.
Ronnie teria feito pesquisas sobre o então interventor na segurança pública do Rio, general Braga Netto, além de buscas sobre a submetralhadora MP5, que pode ter sido usada no crime.
A polícia afirma ainda que Ronnie usou uma espécie de “segunda pele” no dia do atentado. A malha que cobria os braços serviria, segundo as investigações, para dificultar um possível reconhecimento.