“Independente de qual fosse a pessoa trans selecionada, a ação afirmativa por si só já era muito valorosa, então eu estava muito feliz, e obviamente fiquei ainda mais feliz quando fui selecionada”, relembra a servidora do Ministério Público do Estado de Mato Grosso, Ana Vitória Saraiva de Azevedo Pontes, 25 anos. Na próxima terça-feira (12) ela completa um ano como auxiliar ministerial no Centro de Apoio Operacional de Defesa dos Direitos Humanos, Diversidade e Segurança Alimentar.
“A ação afirmativa do Ministério Público de Mato Grosso em destinar vaga específica para pessoas trans tem um valor simbólico, exatamente por reconhecer essa barreira de empregabilidade que sofremos no Brasil. Foi a primeira vez que ser trans não foi visto como algo negativo e de impedimento para ocupar a vaga, mas, pelo contrário, era algo que potencializava os conhecimentos técnicos e jurídicos que acumulei dentro da academia”, ressaltou a servidora.
Durante a seleção, também foi exigida formação em Ciências Sociais Aplicadas, com graduação concluída. Ao todo, foram encaminhados ao setor responsável 25 currículos, sendo que cinco pessoas foram selecionadas para a entrevista. O grupo incluiu candidatos de Brasília, Rondônia, Ceará e Cuiabá.
Desde que começou a trabalhar no MPMT, Ana Vitória tem dado várias contribuições e afirma que tem oferecido à instituição um olhar diferenciado, com uma perspectiva de mundo diferente, mais humanizada, mais igualitária e coletiva. “Está sendo incrível, estou tendo a oportunidade de canalizar todas as lutas que já travava ao longo da minha graduação e ao longo da minha vida. A professora doutora Leilane Assunção, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, já falecida, dizia que quando se nasce travesti no Brasil, lutar não é uma escolha, mas um imperativo ético”.
Oriunda de uma família tradicional do Estado do Ceará, Ana Vitória diz que começou a viver o processo transicional aos 17 anos, após um caminho de muita infelicidade. “Eu comecei a perceber que não estava sendo verdadeira com quem eu era, com o que eu queria. Na época eu não me entendia e não havia esse espaço de debate de gênero, apenas sabia que eu era infeliz com a realidade que estava vivendo. Não sabia que oito anos depois, seria Ana Vitória e que estaria onde estou hoje. Foi um processo de descoberta muito específico”, relembra.
Reunião – Nesta quarta-feira (06), acompanhada do coordenador do Centro de Apoio Operacional de Defesa dos Direitos Humanos, Diversidade e Segurança Alimentar do Ministério Público do Estado de Mato Grosso, promotor de Justiça Henrique Schneider Neto, Ana Vitória esteve no gabinete do procurador-geral de Justiça, José Antônio Borges Pereira. Ela trabalha em home office e esta semana está em Cuiabá para avaliação do trabalho realizado.