Rede Nacional Pró Unidades de Conservação (Rede Pró UC) feitas neste sábado (17) mostram a destruição causada pelo incêndio no Parque Cristalino II, em Alta Floresta, no norte de Mato Grosso. Segundo a ONG, mais de 7 mil hectares de Floresta Amazônica já foram consumidos e as chamas ainda não foram totalmente controladas.
O parque é uma das principais áreas de biodiversidade do país. Os pesquisadores alegam que o incêndio, que começou no dia 13 agosto, é uma tentativa de ocupação do agronegócio e cobram o Poder Público para que fiscalize, identifique e autue os responsáveis.
“Esse é o segundo passo do processo de ocupação da região da Amazônia. Primeiro, acontece o desmatamento, que vem seguido do fogo”, explica a diretora-executiva da Rede Pró UC, Angela Kuckzach. “A ocupação avança ano após ano, mas a preocupação maior é que, agora, ela está acontecendo também dentro das unidades de conservação”.
Há a suspeita, segundo a polícia, que o fogo teria sido ateado após o pouso de uma aeronave nas proximidades.
“O que vai acontecer em seguida com a área: vai virar, provavelmente, pastagem ou, nas regiões mais planas, monocultura. É assim que acontece a ocupação da Amazônia. O triste, neste caso, é que a gente está falando de um dos parques estaduais mais importantes do sul da Amazônia, com uma alta taxa de biodiversidade, com espécies que só ocorrem aqui”, reforça.
Fogo consumiu 7 mil hectares do Parque Estadual Cristalino II, em MT. — Foto: Reprodução/Rede Pró UC
O imbróglio jurídico vivido pelo parque, depois que a Justiça solicitou que o estado extinguisse a reserva e o Ministério Público Estadual recorreu da decisão, provocou o avanço do desmatamento na região, segundo a rede.
“O fogo é um instrumento para acabar com esse parque e o Poder Público não tem agido da forma como deveria agir. Existe um efetivo muito pequeno do Corpo de Bombeiros, hoje, na região, agindo. A gente vem pedindo para Sema [Secretaria Estadual de Meio Ambiente], mas esse apoio não vem chegando e o resultado é a Floresta Amazônica queimada, a Floresta Amazônica virando cinza”, alerta.
Segundo ela, este é o primeiro ano em que um incêndio é registrado na região.
“Se o Poder Público não tomar conta, ano que vem, o fogo vem, de novo, e termina de destruir o que já se iniciou e, em seguida, vem a pastagem. É desse jeito que as áreas de florestas nativas do Brasil, da Amazônia, que pertencem a toda sociedade, são ocupadas”, diz.
O g1 entrou em contato com a Sema, Corpo de Bombeiros e Ministério do Meio Ambiente, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
Incêndio no Parque Cristalino II, em Mato Grosso, começou no dia 13 de agosto. — Foto: Reprodução/Rede Pró UC
‘Rio de fumaça’
Kuckzach reforça ainda que o desmatamento e o incêndio no norte de Mato Grosso impactam todo o Brasil, indo muito além da fumaça que cobre o país e chega às regiões Sudeste e Sul.
“Quando a gente fala de Amazônia, a gente fala de chuva, de uma área que evapora muita água e essa água é levada para todo o Centro-sul do Brasil. O que a gente tem visto nas grandes cidades nos últimos tempos, essa fumaça, é a troca que a gente está fazendo. A gente está trocando rios voadores de água por rios de fumaça”, ressalta.