Da redação:
O promotor de Justiça Mauro Zaque, do Ministério Público de Mato Grosso, foi um dos destaques de uma reportagem do Domingo Espetacular, da Rede Record, sobre promotores jurados de morte no país. Zaque mostrou possuir um verdadeiro arsenal dentro de casa e deu detalhes da sua rotina, marcada por um forte esquema de segurança.
O promotor, que duas vezes por semana treina em um estande de tiro em Cuiabá, mostra familiaridade com armas como um fuzil M4 – usada pelas Forças Armadas dos Estados Unidos -, uma carabina calibre 12 semiautomática e uma pistola .40. O porte de armas é permitido a membros do Ministério Público.
À reportagem, ele contou já ter usado as armas para fazer a sua defesa pessoal. “Já usei em vários lugares. Conforme o ambiente que vou com a equipe de segurança, estamos fazendo uso da carabina calibre 12 e do próprio M4”, disse.
Zaque relatou, ainda, ter feito curso de direção defensiva e ofensiva, saber usar o carro como uma arma e, inclusive, um curso de segurança na SWAT, unidade da polícia norte-americana altamente especializada em reduzir riscos associados a situações de emergência. “Eles sempre falam uma coisa: nunca despreze a sua intuição”, disse.
Dentro do apartamento onde mora, o promotor mantém o forte esquema de segurança, que se estende para toda família. “O apartamento tem segurança armada, tem sistema de câmeras, sistema de alarmes, elevador com bloqueio”, relatou.
Ele contou às reportagem que o seu estilo de vida, inclusive, já impactou na vida dos vizinhos.
“Já tive vizinho que trocou de carro para não ter um carro do mesmo modelo e da mesma cor que o meu”, afirmou.
Com os amigos, ele também disse sentir um isolamento necessário, em algumas ocasiões. “Já tive situação fora de Mato Grosso onde eu fiquei sozinho no carro com segurança enquanto meus colegas iam todos juntos em um carro pequeno, para não terem que andar comigo”, relatou.
À reportagem, a esposa do promotor, Adriana Zaque, e uma as filhas, Gabriela, relataram como é passar o dia cercado por seguranças. “Você não tem como ir ao shopping cercada por três homens e não chamar a atenção”, disse Adriana.
As filhas, segundo Zaque, apenas foram dormir no próprio quarto, por exemplo, quando já eram praticamente adolescentes.
Ele relatou que, desde então, já recebeu diversas informações de possíveis atentados contra a sua vida.
“A gente tem toda uma rede de informações ou pessoas anônimas que ligam falando para tomar cuidado, que a organização está contratando pistoleiro em tal lugar”, disse.
Ameaças envolvendo o uso de explosivos, segundo ele, também já foram relatadas. “Já falaram que estavam buscando explosivos fora, para promover atentados. Enfim, a gente tem que se precaver, nos cercar de todos os cuidados porque a gente não pode avaliar de forma plena até onde essas ameaças são verdadeiras ou não”, afirmou.
Há dois anos, Zaque também passou a sofrer intimidações, após denunciar – em maio de 2017 – a existência de um esquema de escutas ilegais feitas por oficiais da Polícia Militar no Governo de Mato Grosso. O episódio tornou-se conhecido como a “Grampolândia Pantaneira”.
“Essa denúncia envolvia o primeiro escalão do Governo, o então comandante da Polícia Militar, e outras autoridades que tinham o poder na mão”, explicou Zaque.
O inquérito instaurado segue até hoje e o MPE pede a condenação de dois coronéis e um cabo da PM.
O ex-governador do Estado, Pedro Taques (PSDB) também é investigado em um inquérito sob sigilo. Ele nega as acusações. Segundo relembra a reportagem, Taques foi informado por Zaque sobre o esquema de grampos, mas não teria tomado providências.
“Passado um determinado período, eu não vislumbrei nenhuma providência, eu mesmo representei o Procurador Geral da República para que tomasse conhecimento e adotasse as providências para apurar este evento criminoso”, disse o promotor.
A partir de então, as intimidações por parte de pessoas ligadas ao esquema teriam aumentado e que, por isso, a segurança foi reforçada.
Há dois meses, porém, Zaque está sem segurança institucional. A cada 15 dias, o Gabinete de Segurança Institucional do MPE avalia se é o caso de retomar a segurança intensiva.
Mesmo assim, o promotor conta com um agente de confiança para atuar sempre ao seu lado. À reportagem, o segurança – que prefere não identificado – afirma: “Eu daria minha vida pela dele”.
A reportagem da Record mostra que o promotor – que há 10 anos concentra suas atividades em crimes de “colarinho branco” – iniciou a carreira investigando crimes de contrabando em cidades que fazem fronteira com a Bolívia, como Cáceres (a 220 km de Cuiabá).