MP pede depoimento de dois participantes da chacina de Colniza

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A Promotoria de Justiça de Colniza pediu a pronúncia dos dois primeiros participantes da chacina de Colniza, ocorrida no dia 19 de abril de em 2017, quando 9 pessoas foram brutalmente assassinadas na localidade de Taquaruçu do Norte, no município de Colniza (1.114 km de Cuiabá). O Ministério Público Estadual requereu a pronúncia de Valdelir João de Souza, conhecido como “Polaco Marceneiro” e apontado como o mandante e Pedro Ramos Nogueira (vulgo “Doca”) tido como o primeiro “guacheba” do “Polaco Marceneiro”. Com o pedido do MPMT ambos serão submetidos ao Júri Popular, se acolhido o pedido de pronúncia pelo Juiz da Comarca de Colniza.

Ao todo, cinco acusados de participar da chacina foram denunciados pelo MPMT por homicídio triplamente qualificado (mediante paga, tortura e emboscada), mas o processo foi desmembrado. Além de Valdelir João de Souza e Pedro Ramos Nogueira, foram denunciados Paulo Neves Nogueira, Ronaldo Dalmoneck (o “Sula”) e Moisés Ferreira de Souza (conhecido como “Sargento Moisés” ou “Moisés da COE”).

De acordo com o MPMT, está em andamento um inquérito policial complementar, no qual se apura a participação de outras pessoas, “sendo que no presente feito a discussão cinge-se quanto à participação dos réus Valdelir (Polaco Marceneiro) e Pedro Ramos (Doca) na chacina de Taquaruçu do Norte”.

Na fase inquisitorial diversas testemunhas prestaram depoimentos, entre elas uma testemunha ocular – Osmar Antunes – que presenciou “Doca” como sendo um dos executores do crime, o qual estava acompanhado de mais três pessoas.

“A testemunha ocular Osmar Antunes, lamentavelmente, não pode prestar depoimento em juízo, eis que por ter denunciado à justiça os responsáveis pela Chacina do Taquaruçu do Norte sofreu atentado, uma tentativa de homicídio”, diz trecho dos autos. Após sofrer o atentado Osmar Antunes não foi mais visto na região.

Outro depoimento importante anexado aos autos é do empresário do ramo madeireiro, Alex Gimenez Garcia, o qual relatou com detalhes que a chacina havia sido encomendada por “Polaco Marceneiro”. Conforme ele, 50 dias antes de acontecer a chacina ele passou por uma fazenda onde perguntou para “Tonhão da 12” como estavam as coisas na região e que obteve a seguinte resposta: “Os encapuzados vão fazer uma limpeza na área da Taquaruçu; vão matar todo mundo que estiver ocupando as terras””.

Ainda segundo a testemunha, “Polaco” teria deixado nas mãos Leo Fachin (advogado) a quantia de R$ 3.000.000,00 para que gastasse “comprando quem tivesse que comprar”. A testemunha disse, também, que temia pela sua vida, uma vez que “Tonhão” e “Polaco” são de extrema periculosidade.

“Infelizmente a testemunha (Alex Gimenez Garcia) fora vítima de homicídio no dia 28/07/2018. Não teve a mesma sorte da testemunha Osmar Antunes que evadiu-se da comarca. Mas, essa testemunha assassinada prestou informações relevantes sobre a motivação do crime, corroborando a alegação ministerial, de que o Polaco Marceneiro seria uma dos mandantes, além da informação relevante de que este disponibilizaria R$ 3 milhões de reais para ‘comprar’ quem quiser”, diz o promotor de Justiça de Colniza.

Para o MPMT há prova robusta da participação dos réus na chacina de Taquaruçu. “Por outro lado, as provas produzidas pela defesa técnica são contraditórias e não merecem credibilidade, razão pela qual a pronúncia dos réus Pedro Doca e Polaco Marceneiro é medida que se impõe”, afirma o promotor de Justiça.

Grupo de extermínio – Conforme o MPMT, os cinco denunciados pela chacina integram um grupo de extermínio denominado “os encapuzados”, conhecidos na região como “guachebas”, ou matadores de aluguel, contratados com a finalidade de praticar ameaças e homicídios. No dia da chacina, Pedro, Paulo, Ronaldo e Moisés, a mando de Valdelir, foram até a Linha 15, munidos de armas de fogo e arma branca, onde executaram Francisco Chaves da Silva, Edson Alves Antunes, Izaul Brito dos Santos, Alto Aparecido Carlini, Sebastião Ferreira de Souza, Fábio Rodrigues dos Santos, Samuel Antonio da Cunha, Ezequias Satos de Oliveira e Valmir Rangel do Nascimento.

O grupo de extermínio percorreu aproximadamente 9 km – praticamente toda a extensão da Linha 15 – onde foram matando, com requintes de crueldade, todos os que encontraram pelo caminho. “Os denunciados executaram as vítimas, em desígnios autônomos, de forma repentina e mediante surpresa, utilizando-se de crueldade, inclusive tortura, dificultando, de qualquer forma, a defesa dos ofendidos”, diz a denúncia.

A crueldade empregada pelo grupo de extermínio pode ser constatada em cada vítima assassinada. Os corpos de Francisco e Edson foram encontrados com ferimentos provocados por arma de fogo, já a vítima Valmir tinha vários cortes causados por golpes de arma branca. Ele foi encontrado degolado e com as mãos amarradas para trás. Os três estavam no lado direito da Linha 15. Cerca de 6 km à frente, em um verdadeiro rastro de morte, foi encontrado o corpo de Izaul, ao lado de sua casa. Ele também foi degolado e estava com as mãos amarradas para trás. Aldo foi morto por disparo de arma de fogo e Ezequias com golpes de faca no pescoço. Os dois estavam no km 2 da Linha 15.

Sebastião foi encontrado dentro de casa. Ele foi executado com golpes de facão. Os dois últimos corpos foram localizados nas proximidades de um córrego. Fábio e Samuel apresentavam ferimentos provocados por arma de fogo.

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