Por:Folhamax
Em sua delação premiada firmada junto a Procuradoria-Geral da República, o ex-secretário de Educação, Permínio Pinto, entregou uma conversa de WhatsApp que pode indicar que o ex-governador Pedro Taques (PSDB) tinha conhecimento das fraudes na Seduc. Trechos do depoimento do ex-secretário foram divulgados pelo site O Livre.
Apesar de não tratar com o ex-governador claramente sobre propina, Permínio relatou uma reunião, ocorrida em janeiro de 2016, em que o ex-governador cobrou o andamento do projeto “Escola Legal”, que previa reformas e construções de unidades educacionais e quadras poliesportivas no Estado. Após o secretário anunciar que a licitação ocorreria na semana seguinte, Taques teria usado um termo “sinistro”, segundo Permínio.
“Precisamos empacotar isso. As reformas e os condicionadores em um pacote separado”, orientou Taques.
Permínio também descreve em sua delação que, no dia em que o Gaeco (Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado) deflagrou a Operação Rêmora, Pedro Taques – que estava em Brasília – chegou à Cuiabá convocando uma reunião com o então titular da Seduc e outros secretários. Segundo Pinto, o encontro foi iniciado com o ex-governador questionando se o esquema alvo da operação era o pertencente a Allan, se referindo, provavelmente, ao empresário Allan Malouf, também investigado por envolvimento no caso. O empresário também é delator do esquema e revelou que as fraudes foram montadas para pagar dívidas do “caixa 2” da campanha do ex-governador.
Neste mesmo dia, Taques teria praticamente implorado para que Permínio, mesmo com a deflagração da Rêmora, continuasse no Governo. Convite que foi recusado pelo então secretário, que julgou melhor se afastar de suas funções à frente da pasta.
Ainda de acordo com as informações vazadas, Taques teria ligado para o ex-secretário naquela noite perguntando sobre seu estado. No dia seguinte à deflagração da operação, dia 7 de maio, Permínio afirma ter sido chamado à residência do ex-secretário-Chefe da Casa Civil e primo do ex-governador, Paulo Taques, indicando nomes de advogados que poderiam patrocinar sua defesa e dando garantias de que toda a “blindagem seria garantida por Pedro Taques”.
A reportagem do FOLHAMAX tentou contato com o ex-governador, mas as ligações não foram completadas. Ao Livre, Taques afirmou que o trecho da delação só confirma que ele, ex-governador, não tinha conhecimento das fraudes aplicadas na Seduc.
De forma mais detalhada, ele afirmou que só tomou conhecimento dos esquemas com a deflagração da Operação Rêmora e que não procede a informação de que ele tenha perguntado o autor do esquema durante a reunião citada por Permínio. Taques também afirmou que suas reuniões com Permínio se davam apenas para discutir o desenvolvimento das ações da pasta.
OPERAÇÃO RÊMORA
A Operação Rêmora foi deflagrada em 2016 pelo Gaeco com o objetivo de desbaratar um esquema de corrupção implantado nas entranhas da Seduc. Segundo as investigações, os desvios se davam por meio de contratos de obras em escolas superfaturados. Permínio chegou a ser preso preventivamente em julho de 2016, mas acabou sendo solto em dezembro do mesmo ano após confessar seus crimes.
O grupo fraudava o processo licitatório e exigia o pagamento de propina por parte das empresas para que a Seduc firmasse o contrato. As investigações apuraram que o esquema foi montado para recuperar recursos investidos na campanha do ex-governador Pedro Taques. Além do ex-secretário, são réus na ação o empresário Giovani Guizardi, que acusou Permínio de ficar com 25% de toda a propina arrecadada com os empresários, donos das empresas contratadas pelo Estado para realizar obras de reforma e construção de escolas em Mato Grosso. Giovani é apontado por ser operador do esquema.
Outra pessoa com papel destaque no esquema é o empresário Alan Malouf. Em seus depoimentos, Permínio acusou Pedro Taques e o ex-deputado federal Nilson Leitão (PSDB) de integrarem o esquema. Este último, segundo Permínio, ainda praticava o crime de lavagem de dinheiro.
ÍNTEGRA DO DIÁLOGO ENTRE TAQUES E PERMÍNIO
Pedro Taques: E o pacote Escola Legal?
Permínio Pinto: A licitação acontecerá na outra semana.
Pedro Taques: Precisamos empacotar isso.
Permínio Pinto: Controle de frequência de alunos e outras ferramentas tecnológicas estarão junto (sic) no pacote, além das entregas das 7 novas escolas, 10 quadras e reformas também.
Pedro Taques: Em janeiro?
Permínio Pinto: Janeiro e fevereiro.
Pedro Taques: As reformas e os condicionadores em um pacote separado.