O jornalista Chico Alves, do site UOL, publicou um texto crítico contra o deputado federal mato-grossense Abílio Brunini (PL), que voltou a protagonizar uma polêmica nesta semana na CPMI dos Atos Antidemocráticos.
Talvez os eleitores de Mato Grosso não soubessem, mas entre os políticos que eles mandaram para a Câmara nas últimas eleições estava um candidato a comediante.
Nada contra os comediantes, desde que as palhaçadas sejam feitas em local adequado. Como se sabe, o Congresso não é – ou ao menos não deveria ser – espaço para piadistas. O palhaço Tiririca, que também é deputado, sabe muito bem separar as duas atividades.
Não é o caso do bolsonarista Abílio Brunini (PL-MT), um estreante na Câmara, que até aqui dedicou seu mandato a ironizar os adversários políticos, tentar provocá-los com atitudes pueris, atrapalhar suas falas. Como um aluno travesso da 5ª série, comparece ao Congresso não para fazer proposições relevantes ou discutir seriamente os problemas do Brasil – seus objetivos são apenas a lacração e a trolagem.
Apesar da semelhança com o comediante Curly Howard, que nos anos 30 e 40 fez parte do seriado cômico “Os três patetas”, Brunini não tem graça nenhuma.
Na terça-feira (11), durante a CPMI do 8/1, o deputado foi chamado de carente pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP). Brunini, então, teria dito que Erika estava oferecendo serviços – uma menção a prostituição. Foi acusado de homofobia, já que a deputada é uma pessoa trans. A declaração do deputado foi ouvida pelo senador Rogério Carvalho (PT-SE).
Algumas horas depois, o parlamentar de Mato Grosso acusou Erika de “aproveitadora” e, na tribuna da Casa, garantiu que não é homofóbico. “Eu tenho inúmeros amigos homossexuais”, disse o deputado, repetindo a alegação que costuma confirmar a suspeita.
Misturando alhos com bugalhos, Brunini referiu-se à “causa da transfobia” e à “causa da homofobia”. Deveria se referir, na verdade, ao combate à homofobia e à transfobia. Talvez tenha sido um ato falho.
O parlamentar mato-grossense já tinha provocado várias outras confusões. Como no dia em que ficou postado infantilmente à frente da deputada Sâmia Bonfim (PSOL-SP) para que ela não conseguisse falar com os integrantes da mesa da CPI do MST. Nesse dia, Brunini foi o pivô de uma intensa discussão.
Volta e meia leva bronca de algum colega, por adotar atitude cínica ou por fazer provocação descarada.
É como aquele tipo de aluno chato que existe em toda sala de aula de 5ª série e se acha muito engraçado, apesar de ser desprezado pelos colegas.
Pela idade que tem e pela função que exerce, esperava-se de Abílio Brunini atitudes mais maduras. Mas, instigado pela tropa de parlamentares bolsonaristas, ele continua a reincidir em palhaçadas por falta de alguma decisão da Mesa Diretora que o obrigue a se comportar como adulto.
Na verdade, tem acontecido o inverso: toda vez que Abilio Brunini age como trapalhão, instaura no Congresso um clima de 5ª série.
Diante de tantos problemas sérios que afligem os brasileiros e que estão à espera de solução, o rebaixamento do Parlamento a essa indigência intelectual não deveria provocar risos.
Na verdade, a situação é para chorar.