Governo sanciona Lei do Transporte Zero para combater a pesca em MT: Pescadores reagem

Estado vai pagar auxílio de um salário mínimo para pescadores durante três anos, e promover a inserção dos profissionais em programas de qualificação

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O governador Mauro Mendes sancionou a Lei n. 12.197/2023, conhecida como Transporte Zero, que visa combater a pesca predatória nos rios do Estado. A nova legislação foi publicada no Diário Oficial do Estado desta sexta-feira (21.07).

A lei proíbe o transporte, comércio e armazenamento de peixes dos rios estaduais pelo período de cinco anos, a partir do dia 1º de janeiro de 2024.

Durante três anos, o Estado pagará auxílio de um salário mínimo por mês para pescadores profissionais e artesanais inscritos no Registro Estadual de Pescadores Profissionais (Repesca) e no Registro Geral de Pesca (RGP) que comprovem residência fixa em Mato Grosso e que a pesca artesanal era sua profissão exclusiva e principal meio de subsistência até a lei entrar em vigor.

O auxílio não será pago nos meses de piracema, considerando que os beneficiários já são atendidos pela Lei Federal n. 10.779/2003.

O Governo do Estado também vai promover a inserção dos pescadores em programas de qualificação da Secretaria de Estado de Assistência Social e Cidadania para o turismo ecológico e pesqueiro, e de produção sustentável da aquicultura.

A lei ainda prevê a instituição de uma linha de financiamento, por meio da agência de fomento Desenvolve MT, destinada aos pescadores beneficiados com o auxílio financeiro do Transporte Zero.

As proibições previstas na lei não alcançam a pesca de subsistência para povos indígenas, originários e quilombolas, bem como a captura de peixes às margens dos rios destinada ao consumo no local, subsistência ou à compra e venda de iscas vivas que se enquadrem na legislação.

Também estão liberadas a modalidade pesque e solte, da pesca esportiva, que tem como regra a devolução do peixe ao rio, com exceção dos meses de vigência da piracema, em que todo tipo de pesca é proibido, e a modalidade pesque e pague, desde que o estabelecimento faça a emissão da nota fiscal dos peixes que serão transportados e armazenados pelo pescador.

Após o período de cinco anos, a cota permitida para transporte, armazenamento e comercialização dos peixes será regulamentada pelo Cepesca.

A  Assembleia Legislativa deverá criar um observatório social para monitorar a melhoria das condições ambientais em decorrência da aplicação da lei, o aumento no estoque pesqueiro dos rios, a evolução do turismo de pesca no Estado, análise econômica das condições da cadeia produtiva da pesca, e avaliação do auxílio financeiro que será ofertado pelo Governo do Estado.
CONTRÁRIO :
Ministério da Pesca e Aquicultura, André de Paula, é contra a proibição da pesca no estado do Mato Grosso.

Há, segundo ele, muita apreensão entre os pescadores e pescadoras artesanais mato-grossenses por conta do projeto, oriundo do Governo do Estado. Segundo o texto, a pesca fica permitida somente para a modalidade amadora e esportiva, em que os peixes são fisgados e devolvidos ao rio. Além disso, só seria possível a pesca de subsistência, em que o pescador é autorizado a retirar peixe da água apenas para consumo próprio, em pequena quantidade.

Fora dessas condições, o transporte, a armazenagem e a venda do pescado estariam proibidas no estado pelo prazo de cinco anos. Nesse período, o governo estadual propõe pagar um auxílio aos pescadores artesanais e também a oferecer-lhes cursos de qualificação.

Por outro lado , 16 mil pescadores atuam na pesca artesanal em Mato Grosso e são contrários e segundo as entidades de defesa dos pescadores já irão entrar com recursos, buscando na Lei sua inconstitucionalidade.

Este assunto só iniciou, ainda vai dar muita dor de cabeça ao Governo de MT.

Outras manifestações contra o projeto 

A proposta do Executivo Estadual tem desencadeado uma série de manifestações contrárias à ela, sobretudo de organizações socioambientais e de setores ligados à pesca artesanal. Em nota, o Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais do Brasil (MPP) repudiou a aprovação em primeiro turno do PL na ALMT.

O MPP afirmou que reprova a forma como decisões sobre a vida, cultura, modo de vida e tradições de pescadores artesanais violam o direito à consulta livre e informada, como prevê a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). “Isso é um ataque que fere diretamente o direito dos pescadores e pescadoras artesanais. Nos solidarizamos com os pescadores e pescadoras artesanais do estado do Mato Grosso e ajudaremos tomar as medidas cabíveis”, diz a nota de repúdio.

No início do mês, um grupo de conselheiros que integram o Cepesca, junto com organizações da sociedade civil, também elaborava uma nota de repúdio contra o PL nº 1.363/2023. A nota já contava com a assinatura de seis conselheiros, além de mais de 20 de organizações socioambientais e de colônias de pesca do estado.

“Mato Grosso nunca assumiu a responsabilidade de obter um diagnóstico confiável da pesca no Estado. Aqui abrigamos três entre as mais importantes bacias hidrográficas da América do Sul: a bacia do Alto Paraguai, que inclui o Pantanal, a bacia do rio Araguaia e a bacia Amazônica. Infelizmente, não há dados de boa qualidade disponível para essas três bacias”, aponta o documento.

Para os pesquisadores que assinam a nota técnica, o responsável pela ausência de um diagnóstico confiável da pesca é o próprio estado, “que, ao longo do tempo, vem se esquivando dessa responsabilidade”.

O documento também chama atenção para o fato de que pescadores comerciais fariam parte da categoria de usuários da pesca mais vulnerável. “Mas é a categoria mais mobilizada e que mais mobiliza a sociedade em geral para as causas em prol da conservação do rio e do recurso pesqueiro”.

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