Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) ouvidos pelo blog classificaram o ato do ex-presidente Jair Bolsonaro que aconteceu neste domingo (25) na Avenida Paulista, em São Paulo, como um “grito de desespero” diante do avanço das investigações do roteiro do golpe e do temor do ex-presidente da prisão.
Na avaliação de um integrante da corte, Bolsonaro antecipou sua estratégia de defesa —que chamam de “absurdo jurídico”— para tentar criar um ambiente junto a seus apoiadores de que não havia nada de errado em discutir uma minuta de golpe de Estado.
Na admissão da existência da minuta do golpe por parte de Bolsonaro, durante seu discurso, um ministro do STF anotou: “mas como ele diz que ia submeter [a minuta] ao Congresso se, com golpe de Estado, quem garante que ia ter Congresso? Tinha uma versão [da minuta] até para prender o Pacheco [presidente do Senado]”.
Silas Malafaia, à esquerda de Bolsonaro, durante ato na Avenida Paulista, em São Paulo, no domingo (25.fev). — Foto: Reprodução
Magistrados avaliam que está cada vez mais clara a mudança no entendimento de Bolsonaro e de seus aliados de que o cerco esta se fechando pois, antes, falava-se no ex-presidente como autor intelectual, como se propostas de golpe fossem apresentados a ele.
No entanto, com o avanço da PF, evidencia-se que Bolsonaro estava “materializando” a proposta —nas palavras de um ministro da Corte. “Não só era ativo, como era proativo”.
Apesar de Bolsonaro ter evitado ataques ao STF, ministros viram uma terceirização de ataques, numa ação coordenada, a Silas Malafaia —chamado por integrantes da Corte, nos bastidores, de ‘ventríloquo”.
Líder político da direita
Politicamente, Bolsonaro mostrou mais uma vez que é o líder da direita. Ele usou o ato como uma espécie de ordem para que não o abandonem, pois isso pode ter efeitos negativos para eventuais sucessores e aliados, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e o prefeito paulistano, Ricardo Nunes —às vésperas da eleição municipal.
Nem mesmo os aliados de Bolsonaro, porém, acreditam que o ex-presidente sobreviverá ao fim das investigações sem uma condenação.
No STF e na PF, a avaliação é de que se houver prisão, ela ocorrerá apenas após transitado em julgado —quando não há mais possibilidade de recurso.