O pecuarista Claudecy Oliveira Lemes, que tem 11 fazendas no município de Barão de Melgaço, em Mato Grosso, é acusado de desmatar parte do Pantanal para plantar capim e fazer pasto para boi.
As propriedades dele vão ser administradas por uma empresa escolhida pela justiça até que terminem as investigações sobre esse crime ambiental de proporções gigantescas.
O Fantástico sobrevoou a região afetada: as áreas onde houve desmatamento somam 80 mil hectares – o tamanho da cidade de Campinas, em São Paulo.
Os investigadores dizem que a intenção do fazendeiro era aniquilar a vegetação mais alta. Isso resultou em imensas manchas cinzas na paisagem, formada de árvores que perderam todas as folhas – resultado de um processo chamado de desfolhamento químico, obtido quando se faz uma pulverização criminosa ao lançar de avião toneladas de agrotóxicos sobre a mata preservada.
ara conseguir transformar a área em pastagem para gado, o proprietário investiu tempo e fortuna, informa a investigação. Ele fez a aplicação de herbicidas ao longo de três anos, e as notas fiscais apreendidas revelam que, só com a compra de agrotóxicos, ele gastou R$ 25 milhões.
Segundo a Secretaria, o fazendeiro usou 25 agrotóxicos diferentes, um deles tem a substância 2,4-D. O professor Wanderlei Pignati, da Universidade Federal do Mato Grosso, diz que é a mesma presente na composição do chamado agente laranja.
Trata-se de um desfolhante químico altamente tóxico usado pelos Estados Unidos na Guerra do Vietnã. Com o herbicida, as tropas americanas desmatavam florestas pra impedir que soldados inimigos se escondessem embaixo da vegetação.
No Pantanal, peritos comprovaram em laboratório a contaminação em amostras da vegetação, do solo e da água. Os produtos são classificados com potencial de periculosidade ambiental III, ou seja, perigosos ao meio ambiente.
Claudecy Oliveira Lemes, de 52 anos, é um fazendeiro com histórico de crimes ambientais. Ele já é réu em dois processos: tentou alterar o curso natural de um rio e foi flagrado desmatando vegetação nativa em área de especial preservação. Desde 2019, tem 15 autuações por danos ao meio ambiente no Pantanal.
No período em que fazia o desmatamento químico, Claudecy deveria estar recuperando a vegetação em áreas das fazendas – pelo menos era o acordo que tinha assinado com o Ministério Público.
Ainda é impossível ter uma estimativa de quantos anos de cadeia ele pode pegar se for condenado, mas as multas já estão calculadas: somadas, chegam a quase R$ 2 bilhões e 900 milhões.
Claudecy ainda terá que arcar com a reparação dos danos ambientais que causou ao Pantanal: são mais R$ 2 bilhões e 300 milhões para recuperar a vegetação.
A polícia quer responsabilizar também o piloto do avião usado para pulverizar o agrotóxico, Nilson Costa Vilela, e o agrônomo Alberto Borges Lemos, que é acusado de fazer a escolha dos produtos desse coquetel de venenos.
Os advogados de Claudecy Oliveira Lemes dizem que ele vem cumprindo o acordo de reposição florestal feito com o Ministério Público de Mato Grosso.
O advogado do piloto Nilson Costa Vilela diz que seu cliente aplicou sementes nas fazendas citadas no inquérito, mas nega a acusação de despejo de agrotóxicos para desmatamento químico. O Fantástico não conseguiu contato com o agrônomo Alberto Borges Lemos.
view-source:https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2024/04/14/agente-laranja-pecuarista-desmata-o-pantanal-com-substancia-altamente-toxica.ghtml