Faculdades de Cuiabá e Várzea Grande são suspeitas de fraudar Enade para obter notas

São investigadas a Faculdade Cuiabá, a Cândido Rondon e a Desembargador Sávio Brandão.

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Enade é o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes, promovido pelo Ministério da Educação (MEC). O objetivo é avaliar as próprias instituições de ensino superior. O Enade substituiu o “provão”, que era aplicado em 2004.

O Fantástico teve acesso à gravação de uma reunião liderada por Maria Aparecida do Nascimento, diretora das três instituições: a Faculdade Cuiabá, a Cândido Rondon e a Desembargador Sávio Brandão.

Em 2015 as três faculdades – que oferecem os cursos de administração, direito, turismo e psicologia – tiveram notas baixas. As notas variaram entre um e dois, quando o máximo é cinco.

A aplicação seguinte do Enade foi em 2018. A repetição do mau resultado levaria à primeira sanção do MEC: diminuir o número de alunos nas faculdades. A reunião foi um mês antes do exame.

A maior parte dessa nota, 55%, sai de uma prova feita por estudantes veteranos que já tenham cumprido 80% do curso. A direção dessas faculdades deu um jeito de garantir que só os bons alunos fizessem o Enade: apressou a formatura dos alunos mais fracos, que poderiam abaixar a nota média.

Em julho de 2018, a formatura foi uma festa pra estudantes de três faculdades particulares de Mato Grosso.

Mas alguns deles nem deveriam estar ali.

Segundo um professor, a ordem que foi dada era para que os alunos que são ruins, se antecipa a formatura deles fazendo com que eles ganhem notas. Este professor trabalhava na faculdade no ano passado.

Ele (aluno) acabava sendo aprovado e recebia o seu diploma mesmo que não tivesse cumprido toda a carga do curso.

A repetição de maus resultados pode levar até ao fechamento de uma faculdade. Nas instituições dirigidas por Maria Aparecida Nascimento, os bons alunos que poderiam se formar antes da aplicação do Enade tiveram que se manter matriculados para fazer o exame.

Outras duas avaliações compõem a nota de uma faculdade. Uma delas é um questionário que o aluno preenche com perguntas sobre a instituição. Os alunos podem responder em qualquer lugar com acesso à internet, inclusive em casa, mas os professores obrigavam os alunos a responder o questionário nos computadores da faculdade, para controlar as respostas dadas.

Por telefone, falamos com estudantes que confirmaram a fraude.

Uma aluna disse que “indiretamente, houve uma indução, ao ponto de falar ‘olha, essa resposta não é boa para faculdade, melhor você dar outra”.

Por causa disso, um estudante de administração fez uma denúncia anônima na página do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, o Inep, responsável pelo Enade. Segundo a denúncia, a faculdade ameaçou reprovar alunos que se negassem a participar da fraude.

Representantes do Inep disseram que já há uma apuração em andamento e que, após a conclusão do levantamento, a auditoria interna será encaminhada ao MEC.

A outra avaliação é uma vistoria feita pessoalmente por profissionais do Inep. Eles avaliam as condições oferecidas em laboratórios, bibliotecas e salas de aula. Nas três faculdades, isso também era fraudado.

Essa atividade preparatória para prova do Enade não pode substituir a atividade curricular tradicional.

Os professores dispensaram os estudantes da entrega de trabalhos curriculares e estágios e a nota do Enade foi transferida para o boletim.

Neste boletim, todas as matérias receberam 8,6. A mesma nota que um aluno tinha tirado na prova do Enade.

Segundo o diretor acadêmico das faculdades, Evandro Echeverria, gravado ao dizer aos alunos que “nós esquecemos tudo. Nós queremos nota do Enade. Se topar o Enade, nós esquecemos tudo”, disse por meio de nota que não trabalha mais nas faculdades e que, por isso, prefere não se manifestar.

A produção pediu a um perito forense que analisasse a gravação.

“Nós garantimos a identificação positiva para esses dois áudios, tanto a Cida quanto para o Evandro”.

Os advogados da diretora Maria Aparecida Nascimento negaram “qualquer alteração artificial” no preenchimento dos questionários e que não são “condizentes” as informações sobre interrupção do currículo e antecipação de formaturas.

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