Por:G1.com
O ex-secretário de estado Paulo Taques, que é primo do ex-governador Pedro Taques (PSDB), foi denunciado nessa segunda-feira (15) pela Procuradoria Geral de Justiça. Segundo o Ministério Público Estadual (MPE), Paulo Taques foi denunciado pelos crimes de interceptação ilegal e denunciação caluniosa.
Investigações do órgão apontam que o ex-secretário de estado teria induzido delegadas a erro e grampeado celulares da ex-amante e da secretária dele. Paulo Taques é suspeito de ordenar grampos clandestinos operados pela Polícia Militar com objetivos não autorizados em lei.
O esquema foi denunciado em maio de 2017 e descobriu-se que mais de 100 pessoas tiveram os celulares grampeados ilegalmente, entre elas, políticos de oposição do governo, advogados, médicos e jornalistas. O ex-secretário chegou a ser preso em agosto de 2017.
De acordo com o MPE, Paulo Taques foi amante de Tatiane Sangalli entre 2009 a 2015, data em que assumiu o cargo de secretário-chefe da Casa Civil de Mato Grosso. Antes, em 2014, Paulo Taques teria montado um ‘escritório’ de interceptações clandestinas durante a campanha eleitoral do primo.
A ex-amante foi interceptada pelo escritório clandestino em outubro de 2014. Tatiane perdeu o cargo de assistente de gabinete e então passou a cobrar de Paulo um novo cargo assim que Pedro Taques foi eleito. Ela ainda teria pedido pagamento da parcela de um carro e com frequência comparecia em eventos oficiais.
Ainda conforme a denúncia, Tatiane ficou amiga de Caroline Mariano, funcionária do escritório de advocacia de Paulo Taques e, em janeiro de 2015, passou a trabalhar como secretária dele.
“O acusado, preocupado com o término de seu relacionamento, já que Tatiane estava magoada e poderia atingi-lo expondo sua intimidade e, ainda, desconfiado que Caroline vazava informações de seu gabinete para jornalistas, cujas matérias prejudicavam a imagem do governo, resolveu, então, monitorar os três”, diz trecho da denúncia.
Lista de grampos clandestinos — Foto: Reprodução/TVCA
O então secretário, sabendo que a ex-amante tinha amizade com a filha de João Arcanjo Ribeiro, conhecido por comandar o jogo do bicho em Mato Grosso, inventou uma ‘história’ de que a amante e a amiga teriam informações para planejar um suposto atentado contra Pedro Taques.
Aproveitando do cargo que ocupava, ele comunicou a suposta história à Secretaria de Segurança Pública e ao então secretário da pasta, Mauro Zaque. O primo do governador alegava que Pedro Taques corria risco de morte.
Paulo ainda apresento uma lista com supostas conversas telefônicas interceptadas – fora do padrão
costumeiramente utilizado pelos órgãos de investigação oficiais – denotando que duas mulheres tramariam algo contra si e o então governador.
Zaque, desconfiado, questionou sobre a origem do documento. Paulo Taques alegava que era de um órgão federal, escondendo o fato que o documento foi obtido no escritório clandestino.
Os nomes da ex-amante e da amiga foram inseridos em investigações e operações policiais. Zaque, sendo enganado, acionou outros membros das forças de segurança.
As informações foram passadas às delegadas Alessandra Saturnino e Alana Darlene Cardoso, à época representantes do setor de inteligência da Polícia Civil. A denúncia aponta que o primo do então governador induziu as delegadas a erro para investigar a suposta ameaça, já que repassou as conversas e informações envolvendo o crime organizado.
As conversas da ex-amante e da amiga foram ouvidas por 15 dias e nada de ilegal foi encontrado. As duas ainda foram alvos de operações e novamente nada ilícito foi achado pela polícia.
“Isto demonstra que a suposta ameaça contra a vida do Chefe da Casa Civil e do governador nunca existiu, não passando de uma “história cobertura” inventada pelo acusado para monitorar, ilegalmente, sua ex-amante e sua secretária. Com efeito, o intento de Paulo Taques nunca foi realizar uma investigação criminal, mas sim evitar que sua intimidade fosse exposta e que fatos ocorridos na Casa Civil viessem a público”, detalhou a denúncia do MPE.
A denúncia, assinada por José Antônio Borges Pereira, Procurador-Geral de Justiça, foi encaminhada à 7ª Vara Criminal de Cuiabá.
O cabo da Polícia Militar Gerson Corrêa Júnior, acusado de participar de um esquema de escutas telefônicas ilegais, também assumiu a prática de grampos clandestino. Gerson afirmou que as interceptações foram financiadas por Paulo Taques.
Outro lado
Sobre essa denúncia, Pedro Taques (PSDB) disse que é inocente das acusações e vai provar em juízo. Já Paulo Taques não quis comentar a declaração de Zaqueu.