A violência ainda campeia os bairros de Várzea Grande

A falta de segurança e a onda crescente da violência em Várzea Grande são ingredientes encontrados em comunidades da cidade de Couto Magalhães

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Aline Barbosa 

Em busca de dar voz à população várzea-grandense o Correio Metropolitano criou o projeto ‘Especial Correio Metropolitano’ que vai retratar a realidade dos cerca de 240 bairros do município de Várzea Grande. Nesta reportagem vamos contar as histórias e tradições dos bairros Parque Paiaguas, Jardim Itororó e Jardim Marajoara.

Estima-se que a população dos três bairros encontra-se na casa dos 20.000 habitantes, sendo que o bairro Jardim Itororó (transformado agora em Jardim Marajoara III) possui o maior número. A voz uníssona na região é o pedido de socorro nas áreas da saúde pública, educação, saneamento básico e pavimentação asfáltica.

A questão da violência contra o cidadão sempre vem em primeiro lugar. Localizados as margens da Avenida Senador Filinto Muller que hoje é totalmente pavimentada, iluminada e com amplo espaço para a prática de caminhada, não impede que seja um local de assaltos e outros tipos de violência. Quem a utiliza para fazer caminhadas reclama da falta de segurança.

As três comunidades dividem os mesmos problemas sociais como a falta de pavimentação, rede de esgoto, iluminação, segurança e transporte público. Dificuldades que apenas mudam de endereços, mas, permanecem sendo a triste realidade desses várzea-grandenses.

Morando há, 03 anos, no bairro Parque Paiaguas, o casal de comerciantes Zenilda Rodrigues da Silva e Nilson Benites de Oliveira são donos de um pequeno mercado, onde no balcão de atendimento sobressai grades que lembram mais uma cela de prisão. O papel é invertido, são obrigados a ficarem presos para permanecerem seguros. “É a vida do trabalhador, com a falta de segurança aqui, é assim que funciona. Trabalhar atrás das grades. É muito raro ver a Polícia passar por aqui”, conta Nilson.

Os dois ressaltam que a segurança pública é de longe o único problema da comunidade. Diariamente tem dificuldades com o abastecimento de água, devido à falta de pressão obrigando-os a gastarem energia elétrica, para ligar a bomba hidráulica. “Sem a pressão a água não sobe para a caixa e por isso temos que colocar a bomba d’água. Outro caso é quando chove, a água invade as residências e, também não temos rede de esgoto”, conta o morador.

Zenilda fala sobre a atual situação de transporte público na qual segundo a comerciante as pessoas necessitam sair da comunidade e caminhar até a Avenida, para ter acesso aos ônibus. “Quando as pessoas do bairro precisam usar o ônibus andam até à Avenida onde tem apenas uma linha. Pela manhã as 06h e outra as 17h”, conta ela.

Do outro lado da Avenida Filinto Miller está o bairro Jardim Itororó. E numa de suas principais ruas, mora Everton Junior, comerciante que acentua o descaso do poder municipal, na infraestrura da região aonde mora. “O asfalto é precário só tem nas avenidas principais. Saneamento básico não existe nos bairros. A Polícia Militar tem andado bastante na região o que não inibe alguns acontecimentos. Já fui assaltado cinco vezes e recentemente mataram um rapaz que era meu vizinho. Mas, o que mais pega aqui é a questão asfáltica principalmente nesse período seco, que agrava muito a saúde devido à poeira”, conta Junior.

Segundo o morador, o Jardim Itororó foi transformado em Jardim Marajoara III para que a comunidade fosse incluída em um programa de asfaltamento, elencado pela Prefeitura de Várzea Grande. “ Quando mudei para essa rua há 10 anos, era intitulada Ari Leite de Campos e anterior a ela era Prefeito Gonçalo Pedroso de Barros e agora virou Avenida Ayrton Senna. O Bairro Marajoara III está loteado dentro do Jardim Itororó,” acentuou o comerciante.

Já o seu sogro João Batista de Oliveira – também comerciante – e um dos primeiros moradores do bairro e conta como foi o nascimento da comunidade: “Mudei para o Jardim Itororó no dia 31 de dezembro de 1992. Quando eu cheguei tinham apenas dez casas e a única iluminação era a lua.  Comprei o meu lote à prestação e levei aproximadamente cinco anos para pagar. É quase, 30 anos, comendo poeira”, relata Batista.

Assim como outros várzea-grandenses, ele já sofreu diversos assaltos o que chegou a prejudicar o seu trabalho. Dono de um mercado se viu obrigado a fechar o seu empreendimento devido prejuízos que sofreu em seu estabelecimento.  “Sabe por que eu parei de trabalhar? Fui assaltado 14 vezes. Eu era proprietário de um mercado, mas, larguei mão. O que desmotiva o empreendedor. O empresário tem que orar para não morrer. O cara vem e te assalta e se reagir, fazendo qualquer coisa contra eles, é você que vai para a cadeia. E, se o  camarada perto dos 60 anos, puxar uma cadeia é ruim, né! Você acaba aceitando e calando-se frente a violência”, declara Oliveira.

História semelhante a do casal Maria Carrara e Edmilson Manoel da Silva que também moram desde o inicio do loteamento e já foram alvos de dezenas de assaltos e atualmente contratou segurança particular. “Nós já fomos roubados 36 vezes, no nosso bar. Tenho um genro que não pode mais trabalhar, pois, num desses assaltos, três ladrões invadiram o nosso estabelecimento, renderam a nossa família, e alvejaram ele com oito tiros, que cortou o canal do seu rim”, declara Maria.

Durante todo esse tempo que mora no bairro eles sempre lutaram por melhorias cobrando da prefeitura pavimentação, que ocorreu somente em 2000. “Eles arrumam só o centro da cidade. Só o centro que é bonito. O bairro Marajoara está ‘arregaçado,’ e já o bairro Jardim Itororó não tem nada”. Ela também fala do problema do abastecimento de água pública. “É aquele sofrimento, gastamos muita energia para ter a água, pois, temos que usar a bomba d’ água”, finaliza Maria.

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