Que Bolsonaro não mede as palavras na hora de dar uma opinião, todos já sabem. Mas, nos últimos 14 dias, o presidente parece ter intensificado sua metralhadora giratória. Tudo bem que o próprio já havia pedido desculpas por suas “caneladas”, ao dizer que nasceu para ser militar e não presidente. Pois as caneladas de Bolsonaro não param. A última e uma das que mais causaram indignação até agora foi aplicada na segunda-feira, quando ele afirmou que se o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, quisesse saber o que havia acontecido com o seu pai, Fernando Santa Cruz, ele contaria. De acordo com documentos oficiais, Fernando foi morto pela ditadura militar. Bolsonaro, contudo, afirmou que o jovem de 26 anos, na época, foi assassinado por um grupo de esquerda.
Ontem, Bolsonaro contestou o trabalho da Comissão Nacional da Verdade, que apura violações dos direitos humanos no período da ditadura militar. Apesar de um registro secreto da Aeronáutica datado de 1978 sobre a prisão de Fernando e um atestado de óbito aponta que ele foi morto “pelo Estado brasileiro”, ele insistiu que não existem documentos sobre a morte do pai de Felipe:
— A questão de 64, não existem documentos de matou, não matou, isso aí é balela — disse o presidente, afirmando que sua conclusão sobre o caso é um “sentimento”.
As declarações provocaram reações. Também ontem, o Ministério Público Federal (MPF) afirmou em nota que Bolsonaro tem o dever de revelar eventuais informações sobre crimes ocorridos na ditadura militar , em especial sobre o caso de Fernando Santa Cruz . De acordo com a nota, o desaparecimento forçado é considerado um crime permanente até que seja descoberto o paradeiro da vítima e, por isso, qualquer pessoa que tenha conhecimento sobre o caso e intencionalmente não revele à Justiça pode ser considerado participante do crime.