freezer “recheado” com os 86 celulares, apreendido em 6 de junho na Penitenicária Central do Estado (PCE), seria uma cortesia para Paulo Cesar da Silva, o “Petróleo” – apontado como uma das lideranças do Comando Vermelho – em agradecimento pelas informações que ele teria fornecido sobre a facção.
Em depoimento à Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), o ex-diretor da PCE Revétrio Francisco da Costa afirmou que o “presente” foi dado a Petróleo pelo subtenente Ricardo Magalhães. Revétrio revela ainda, em depoimento, que policiais da Rotam costumam ir à PCE conversar com alguns presos informantes. Revétrio foi preso e já é réu por associação criminosa e corrupção passiva.
Montagem/Rodinei Crescêncio
Confira, acima, trecho do depoimento prestado por Revetrio em que confirma acordo para entregar freezer, mas nega saber que objeto estaria “recheado”
As informações constam em documentos obtidos com exclusividade e que começam a ser divulgados na série “Ligações Perigosas”.
Segundo o então diretor do presídio, ele pediu ao subtenente Ricardo que procurasse a Associação dos Servidores da Penitenciária Central (Aspec) porque este é o meio correto de obter autorização de entrada desse tipo de material (o freezer). Depois disso, ele mesmo diz ter procurado o tesoureiro da Aspec explicando a situação, que, por sua vez, não viu problemas em dar a permissão.
Com isso, Revétrio conta que voltou a procurar Ricardo, detalhando que existe todo um procedimento para a entrada do material, inclusive com a passagem pelo scanner, tendo que apresentar uma nota fiscal para controle. Em 4 de junho, Ricardo, adicionado no WhatsApp como “NI Rotam”, entrou em contato com Revétrio no final da manhã cobrando uma resposta sobre a “geladeira”.
Neste momento, Revétrio responde ao PM, questionando se o detento não tem geladeira ou freezer dentro da cela. Ricardo diz que acha que não. O diretor então autoriza a entrada, dizendo que podia trazer e que teria que ser pequena. Ni Rotam comenta não saber o tamanho padrão do freezer e Revétrio então resolve mandar um áudio explicando o tamanho do objeto que tem que ser padrão – ouça.
Expostos em colchão os celulares, fones, carregadores e chips encontrados no freezer
No dia 6 de junho, Ricardo manda outra mensagem a Revétrio informando que naquele dia, às 13h30, levariam a cortesia a Petróleo. Porém, Ricardo chegou ao local por volta das 15h, acompanhado do Tenente Ferreira e de outro policial que ele não sabia dizer o nome, mas que era alto, forte e tatuado. Revétrio então os levou até a sala dele e agentes chegaram com o preso poucos minutos depois.
A conversa durou cerca de 1 hora e ele afirma que esteve presente todo tempo e que, além dele, também estava o subdiretor Reginaldo Alves dos Santos, que entrava e saía da sala por conta da Central de Câmeras.
Os policiais perguntaram a Petróleo sobre investigações em geral e Revétrio não teria prestado muita atenção. Foi quando Ricardo pediu novamente que ele autorizasse a entrada do freezer. Diante do pedido, o diretor então disse para Reginaldo que estava autorizado. Alega que depois foi informado por uma agente sobre a apreensão dos 86 celulares, 25 carregadores, 30 chips, cola durepox e duas facas de serra, enroladas no papel alumínio para dificultar a visualização do scanner. Tudo estava dentro de uma geladeira que foi entregue na PCE.
A GCCO apreendeu o celular do então diretor da PCE para complementação da investigação, onde encontrou as conversas. Até 2014, Petróleo já possuía altíssima liderança no CV. Ele era responsável por avaliar fatos, analisar reivindicações e desentendimentos dentro da PCE. Depois, passava os casos ao “Conselho Final”. Depois de 2016 teria subido de cargo na organização, mas não se sabe ao certo qual o posto.