CPI da Covid aprova relatório final, atribui nove crimes a Bolsonaro e pede 80 indiciamentos

Documento de 1.289 páginas, elaborado ao longo de seis meses, será enviado a órgãos de investigação. Texto inclui projetos para punir fake news e criar pensão para órfãos da pandemia.

0
19/08/2021 REUTERS/Adriano Machado

CPI da Covid aprovou nesta terça-feira (26) por 7 votos a 4 o relatório final do senador Renan Calheiros (MDB-AL) sobre a maior tragédia sanitária da história do Brasil — nesta terça, o país contabilizou 606.293 mortes desde o início da pandemia.

Com a aprovação do relatório, a comissão de inquérito, criada para investigar ações e omissões do governo durante a pandemia, encerra os seis meses de trabalho pedindo o indiciamento de 78 pessoas e duas empresas.

O relatório aprovado pelos senadores tem 1.289 páginas e responsabiliza o presidente Jair Bolsonaro por considerar que ele cometeu pelo menos nove crimes.

Há também pedidos de indiciamento de ministros, ex-ministros, três filhos do presidente, deputados federais, médicos, empresários e um governador – o do Amazonas, Wilson Lima. Duas empresas que firmaram contrato com o Ministério da Saúde – a Precisa Medicamentos e a VTCLog – também foram responsabilizadas.

Votaram a favor do relatório:

  • Eduardo Braga (MDB-AM)
  • Humberto Costa (PT-PE)
  • Omar Aziz (PSD-AM)
  • Otto Alencar (PSD-BA)
  • Randolfe Rodrigues (Rede-AP)
  • Renan Calheiros (MDB-AL)
  • Tasso Jereissati (PSDB-CE)
  • onforme o relator, a CPI pôde comprovar:

    • o “evidente descaso” do governo com a vida das pessoas, comprovado no “deliberado atraso” na aquisição de vacinas;
    • a “forte atuação” da cúpula do governo, em especial do presidente da República, na disseminação de notícias falsas sobre a pandemia;
    • a existência de um gabinete paralelo que aconselhava o presidente com informações à margem das diretrizes científicas;
    • a intenção de imunizar a população por meio da contaminação natural (a chamada imunidade de rebanho);
    • a priorização de um “tratamento precoce” sem amparo científico de eficácia e a adoção do modelo como “política pública declarada”;
    • o desestímulo ao uso de medidas não farmacológicas – como as máscaras e o distanciamento social;
    • a prática, por parte do governo federal, de atos “deliberadamente voltados contra os direitos dos indígenas”.

    “Com esse comportamento, o governo federal, que tinha o dever legal de agir, assentiu com a morte de brasileiras e brasileiros”, afirma no texto o senador Renan Calheiros.

    Crimes atribuídos a Bolsonaro

    No caso de Bolsonaro, Renan Calheiros pede indiciamento pelos seguintes crimes:

    1. epidemia com resultado morte
    2. infração de medida sanitária preventiva
    3. charlatanismo
    4. incitação ao crime
    5. falsificação de documento particular
    6. emprego irregular de verbas públicas
    7. prevaricação
    8. crimes contra a humanidade
    9. crimes de responsabilidade (violação de direito social e incompatibilidade com dignidade, honra e decoro do cargo)

    “O presidente da República repetidamente incentivou a população a não seguir a política de distanciamento social, opôs-se de maneira reiterada ao uso de máscaras, convocou, promoveu e participou de aglomerações e procurou desqualificar as vacinas contra a covid-19. Essa estratégia, na verdade atrelada à ideia de que o contágio natural induziria a imunidade coletiva, visava exclusivamente à retomada das atividades econômicas”, escreveu Renan Calheiros no documento.

Deixe seu comentário

Please enter your comment!
Please enter your name here