Demissão de Moro repercute e gera análises políticas nos quatro cantos do País.

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Redação/Istoé

A demissão do ex-juiz Sergio Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública repercute no Brasil e no exterior. Acompanhe aqui as principais análises sobre a decisão do governo de Jair Bolsonáro.

Saída de Moro é ‘golpe na justiça, liberdade e democracia do Brasil’, diz Doria

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), iniciou a coletiva diária do governo estadual que trata das atualizações sobre a pandemia do novo coronavírus lamentando o pedido de demissão do agora ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro. Segundo Doria, a saída de Moro representa um “golpe na justiça, liberdade e democracia do Brasil”.

Ao dirigir solidariedade ao ex-ministro, Doria elogiou sua atuação à frente do Ministério.

Ele agradeceu Moro pela relação “republicana” com as autoridades da Justiça e Segurança Pública de São Paulo e afirmou que o ex-ministro “cumpriu seu papel brilhantemente” enquanto esteve na pasta.

Doria ainda completou afirmando que o ex-ministro “mudou a história do País” durante a época que era juiz da Operação Lava Jato.

Crítica a Bolsonaro

O tom elogioso de Doria, porém, limitou-se à figura do ex-juiz.

Em crítica ao presidente da República, Jair Bolsonaro, que causou a demissão de Moro por ter exonerado Maurício Valeixo, ex-diretor da Polícia Federal, o governador paulista disse: “Lamento muito que nosso País tenha que lutar contra dois vírus: o coronavírus e o outro que está no Palácio do Planalto, em Brasília.”

Moro presidenciável

A saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça não surpreende os que conhecem o desapego do ex-juiz da Lava Jato com o poder e de sua intransigência contra os malfeitos. Ao demitir o diretor-geral, Maurício Valeixo, de forma sorrateira, Bolsonaro queria deixar a PF de joelhos às suas inescrupulosas intenções de dominar a instituição, obrigando-a a tapar os olhos para as falcatruas cometidas por seus filhos milicianos e por seu manifestado desejo de manipular a PF para atingir seus obscuros objetivos de poder.

Moro revelou, em seu pedido de demissão, que Bolsonaro quer transformar a PF numa central de arapongagem, um núcleo de espionagem para perseguir inimigos e proteger a si e a seus nefastos filhos. Os brasileiros do bem, como Moro, não podem compactuar com tamanha ousadia, sobretudo a partir da manifesta intenção do presidente de incitar seus malignos seguidores a atos antidemocráticos e ilegais, como os protagonizados na semana passada, em que pediram a intervenção militar, a volta do AI-5 e o fechamento do Congresso e do STF.A sociedade, os partidos políticos, a direção da Câmara, em especial, e o Poder Judiciário não podem permitir tamanho retrocesso, que agora, com a saída de Moro, torna-se uma ameaça real. O Estado de Direito corre perigo e a democracia brasileira nunca esteve tão ameaçada como agora. Talvez seja a maior ameaça desde de 1964. Ou as instituições que desejam preservar a democracia se organizam para retirar Bolsonaro do poder já ou ele continuará insistindo na sua tese ditatorial de golpear o Estado de Direito e as instituições, conforme Moro acaba de revelar.

Ficou clara na fala de Moro nesta sexta-feira que Bolsonaro comete mais um crime de responsabilidade ao explicitar que deseja de fato instrumentalizar a PF e o governo para defender bandidos e os seus próprios interesses escusos. Moro, portanto, fez a coisa certa, ao expor mais essa insanidade do presidente.

O Brasil fica ainda mais credor do ex-juiz. Primeiro por moralizar a política, colocando na cadeia os marginais que atacaram os cofres públicos e agora tirando a máscara de Bolsonaro. O pior é, a partir da saída de Moro, Bolsonaro vai se encorajar a demitir todos os ministros competentes, como já havia acontecido com Mandetta.

O próximo deve ser Paulo Guedes. Bolsonaro cerca-se cada vez mais dos militares, passando a mensagem de que pode dar um autogolpe, sustentado pela caserna. Portanto, se a sociedade não conseguir se mobilizar neste momento para afastar Bolsonaro do poder já, fatalmente corremos o risco de mergulhar em mais um período de trevas. (Por  Germano Oliveira – Istoé)

Pedido de demissão de Moro racha bolsonarismo nas redes sociais

Apoiadores influentes do presidente Jair Bolsonaro calaram nas redes sociais durante a maior parte da fala de Sergio Moro, na qual o ex-juiz da Lava Jato anunciou sua demissão do cargo de ministro da Justiça e da Segurança Pública e acusou Bolsonaro de tentar interferir politicamente na Polícia Federal.

No fim da fala de Moro, as reações vieram com divergências: houve quem criticasse Moro, quem reafirmasse apoio ao presidente e quem dissesse que estava deixando de sustentar o governo.

Entre os que escolheram a fidelidade ao presidente da República está o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), que publicou na Quinta-feira em seu Twitter que uma demissão de Moro não aconteceria. “Me garantiram que não pediu demissão e foi verdade. Ontem, não pediu. Hoje é outro dia. #FechadoComBolsonaro”. Usuária seguida no Twitter pelo próprio Bolsonaro, Angel Brasil disse que deixa de seguir Moro e atribuiu o pedido de demissão a “puro capricho”. Não é superman, não. Decepção”, tuitou Angel.

Outro perfil bolsonarista seguido por Bolsonaro, Tony Stark Patriota classificou como “estranhas” as declarações de Moro. “Nunca vi um juiz sair atirando assim. Muita vaidade envolvida. Estou muito triste com a saída do Moro, mas votei no Jair Bolsonaro”.

Um perfil identificado como Cristiana Menshova, que também tem o presidente da República entre seus seguidores, reafirmou apoio a Bolsonaro: “Votei em Bolsonaro, continuarei apoiando o Governo até o fim! Moro foi importante na história do País, não tenho dúvidas e ainda o admiro! Mas continuo com o Presidente, saia quem sair, fique quem ficar!”

O blogueiro bolsonarista Ítalo Lorezon tuitou que “quem abandonar Bolsonaro não o trocará por Moro, mas por Mourão”, em referência ao vice-presidente da República, constantemente alvo de ataques por parte dos simpatizantes do presidente. Lorenzon também escreveu que “Moro já está em campanha”.

Impeachment está a caminho

O desembarque de Sergio Moro do governo Bolsonaro sela o destino do presidente e alinha as forças necessárias para dar o início formal do processo de impeachment. Apenas no seu histórico discurso de despedida, Moro aponta vários crimes que vão pesar sobre o presidente: obstrução de Justiça, advocacia administrativa e falsidade ideológica. São acusações gravíssimas feitas por um juiz de enorme credibilidade, apesar dos detratores de Moro, incomodados com os interesses feridos na Lava Jato, da qual foi o principal símbolo.

O ex-diretor da Polícia Federfal Maurício Valeixo, pivô da saída de Moro, estava justamente garantindo o inquérito da PF que indicaria o filho do presidente, Carlos Bolsonaro, como mentor das fake news que atacavam o STF desde o ano passado. Esse é um dos inquéritos que ameaçam o presidente.

Outro, iniciado na última semana por pedido do procurador-geral Augusto Aras, também vai investigar os atos pró-golpe do domingo, 19. Ambos podem apontar de forma cabal as digitais do clã Bolsonaro em um movimento de ataque às instituições e embasar seu pedido de impeachment.

A terceira ameaça para o presidente é um mandado de segurança que deu entrada no STF ns últimos dias. De autoria de um ex-assessor da ministra Rosa Weber e de um ex-conselheiro da OAB, pede o afastamento do presidente e que parte de suas funções sejam imediatamente transferidas para o vice. Está a cargo do ministro Celso de Mello, decano do STF. Com base nele, Mello oficiou esta semana Rodrigo Maia para que justifique por que não abriu o processo de impeachment, apesar das evidências de crimes do presidente, como sua ação contra a saúde pública no combate à pandemia, e sua recusa em divulgar o exame que pode revelar que contraiu a Covid-19.

A saída de Moro cria as condições no Congresso para o início do processo de impeachment e o afastamento de Bolsonaro. Pode se dar por um dos 24 pedidos já protocolados na Câmara, ou pela bem embasada peça dos advogados. De qualquer forma, é uma questão de tempo. As condições jurídicas e políticas para o afastamento do presidente estão dadas.

É preciso lembrar que a popularidade de Moro é maior do que a do presidente. Era um dos últimos fiadores públicos do presidente, que perdeu a confiança dos que ainda imaginavam que representaria o combate à corrupção. Entre os civis, sobra apenas Paulo Guedes, que já está sendo humilhado publicamente por Bolsonaro e que também pode sair a qualquer momento. Restam apenas os militares com assento no Palácio do Planalto.

Havia a expectativa de que tutelariam o presidente para garantir seu mandato com um mínimo de racionalidade até 2022. Agora, podem ser o esteio que vai garantir a posse do vice, em um governo de transição até as próximas eleições. Bolsonaro deveria renunciar. Se não fizer isso, deve ser afastado pelo Congresso ou pela Justiça.

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