Por: Folhamax
Durante as investigações da quadrilha de agiotagem que agia no interior do Estado e teria extorquido diversos empresários, o Grupo de Atuação Contra o Crime Organizado (Gaeco) interceptou diversas ligações telefônicas onde o bando percebe que está sendo investigado e decide esconder valores e até mesmo enterrar cheques. Entre os chefes da organização criminosa, Kaio Cezar Lopes Favato tratava com a esposa J. (menor de idade) e familiares como deveriam proceder sob investigação da polícia, que já realizara busca e apreensão e a prisão de Kaio Favato.
Nas transcrições, J. é orientada a continuar escondendo cheques, pois ele já conseguira fazer isso com alguns. “No dia 06.02.2019 às 07h57min47s, MNI (identificada como J, mulher de Kaio Cezar Lopes Favato) liga para outra MNI (identificada como Letícia, irmã de J.), que é chamada de LE, e “pede para falar com a mãe urgente. LE fala que está indo para o serviço. MNI fala “a polícia veio aqui em casa levou o Kaio mana!” LE diz “hã?” MNI fala “a polícia veio aqui em casa revistou tudo, nossa, eu tenho que sumir com os trem dele, senão, se pegar, ai meu Deus eu tô tão nervosa. LE: “como assim? Não entendi!” MNI repete: “A policia veio aqui em casa, revistou a casa todinha, eu acho que é por causa do serviço do Kaio”. LE pergunta: “Tinha o que?” MNI fala que só queria falar com a mãe. LE pede para esperar. MNI fala que ninguém atende, a Silvana não atende, o marido da Silvana não atende, o pai do Kaio também está preso, agora o Kaio está sendo preso, ele vai ficar cinco dias preso, até ver se ele vai ficar preso, eu não sei até quanto tempo. LE pergunta “o que tinha escondido”. MNI fala do serviço do pai dele, entendeu? cheque não pode? LE fala: “Hã tá” MNI continua “você não está entendendo, eu vou ter que sumir, esconder esses negócios, eu não sei o que eu vou fazer” LE fala: “Pera aí eu vou levar o celular para a mãe, você fala lá com ela”. LE pede para MNI ficar calma não se desesperar não. MNI reclama: “Eu não sei onde vou esconder esses negócios” LE fala: “Tá, mas o que é?” MNI fala: “É cheque Letícia, depois te ligo”. Encerra a ligação.
Neste mesmo dia, 06.02.2019, às 08h04min31s, há uma conversa entre J. e sua mãe que pergunta: “Fala aí pra mim o negócio do cheque” e J fala: “Eu não tenho muita coisa pra falar não, só tem que falar que Kaio vai ficar cinco dias preso. Nem me pergunte nada!…” continuam a conversa onde a mão de J. pergunta: “O J. é por causa daquele cara que eles pegou num é?” J. responde: “Não mãe! O que você está falando? Nada a ver”. A mãe fala: “É por que eles mexe com essas coisas, eu sei, isso veio na minha cabeça, aquele negócio, porque eles mexem com cheque não é, J?” “J responde “É mãe, é mãe!”.
Neste mesmo dia, às 08h12min27s, J liga para Silvana (mãe de Kaio Cezar Lopes Favato e ex-esposa de João Claudinei Favato) após um rápido diálogo Silvana pergunta a J: “E como Kaio reagiu J? J: “Ah, ele estava tremendo, ele estava nervoso. Daí, Silvana, pegaram o celular dele e o computador, eles vão ficar com ele, vão mexer dentro do celular dele, vão ver tudo o que tem, sorte que na hora que a polícia chegou aqui em casa, ele pegou a carteira que tinha aqui dele e enfiou no bolso, e daí ele queria que eu pegasse de alguma forma, só que não tinha, entendeu? Porque o policial, um ficava revistando a casa e outro tomando conta do Kaio, entendeu? Daí, o Kaio foi no banheiro, perguntou ‘posso ir no banheiro fazer xixi?’ daí falaram que sim, daí ele deixou no banheiro, daí eu peguei e já escondi”, mais a frente Silvana fala: “….Vai dar tudo certo, fica tranquila, então tá, mas levou alguma coisa do KAIO, de cheque, alguma coisa? J responde: “Não, porque eu peguei entendeu? Peguei escondido antes, aí escondi tudo, só que eles não vão voltar mais aqui porque a casa está toda revirada…”.
Neste mesmo dia, 06.02.2019, às 08h16min59s, L (irmã de J) liga para J e após um rápido diálogo diz que a mãe quer falar com ela. Após um rápido diálogo, a mãe de J adverte: “Oh, guarda tudo o cheque! A polícia foi aí? J diz: “Você já sabe que veio!” diz a mãe: “Veio? E achou o cheque? J responde: “Não mãe, não né?”. Diz a Mãe: “Você escondeu”. J responde: “Sim”. A mãe fala: “Esconde debaixo”. J interrompe sua mãe e fala: “Ôh, as perguntas que você faz”. A mãe reforça: “Esconde bem escondido, debaixo de alguma coisa, igual a mãe faz”. J fala: “Eu sei mãe, eu já escondi”. A mãe diz “Vai dar tudo certo, logo…tchau”.
Por causa da interceptação desses diálogos é que o Gaeco procedeu ao pedido à Sétima Vara Criminal para que autorizassse novas busca e apreensão na residência de Kaio. A ordem foi cumprida no dia 14 de fevereiro.
Naquele dia, foram encontradas dezenas de folhas de cheques enterradas e acondicionadas dentro de uma lata de metal com tampa plástica pelo quintal. Contra ele, o círculo também se fecha quando os investigadores analisam e comprovam o vínculo associativo entre os denunciados, o relatório do COAF e as movimentações financeiras atípicas de elevados valores feitas entre Kaio e João Claudinei, além disso, uma das vítimas confirmou que os dois trabalhavam em conjunto.
Na Operação Caporegime, foram apreendidos mais de R$ 21 milhões em cheques e notas promissórias, além de R$ 400 mil em ouro e R$ 43 mil em dinheiro. Os presos são suspeitos de praticarem crimes de como extorsões, tentativa de homicídio, lavagem de dinheiro e outros delitos.
Também foram presos Clodomar Massoti, Luis Lima de Souza, Edson Joaquim Luis da Silva, Luan Correia da Silva e Purcino Barroso Braga Neto, José Paulino Favato e Caio Cesar Lopes Favato. Todos os mandados de prisão foram cumpridos no interior de Mato Grosso, nos municípios de Sinop, Peixoto de Azevedo, Guarantã do Norte, Marcelândia e Alta Floresta.