“Registro que de todos os processos que trabalhei, esses são os fatos concretamente mais graves, talvez até mais graves que a atuação dos membros da facção Comando Vermelho (CV)”. Foi com estas palavras que o juiz Marcos Faleiros da Silva, da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, concedeu autorização para que a Polícia Judiciária Civil (PJC), por meio da Defaz (Delegacia Especializada de Crimes Fazendários e Administração Pública), deflagrasse a “Operação Sangria II” nesta manhã de terça-feira (18). A decisão é desta segunda-feira (17).
A afirmação expõe a comparação entre uma suposta organização criminosa, a ligada à Saúde Pública, e uma das facções mais perigosas do país, acusada por inúmeras mortes, entre outros crimes, e instalar o medo. Faleiros foi o responsável por autorizar a deflagração da Operação Red Money, deflagrada contra integrantes do CV, acusados de lavagem de dinheiro e movimentação financeira na ordem de R$ 58 milhões.
No documento, Faleiros também cita que o esquema de corrupção instalado na Saúde Pública de Cuiabá tem resultado na morte de pessoas, que definham em filas dos hospitais aguardando procedimentos médicos, como cirurgias de alta complexidade.
“[Os fatos] envolvem esquema de corrupção, fraude à licitação em prestação de serviços da saúde pública (UTIs e Clínica médica) e lavagem de dinheiro, gerando a morte de pessoas que estão na fila de espera para realização de cirurgia de alta complexidade (Cardíaca, Neurológica), mas não conseguem diante da ação do grupo que monopoliza o serviço de saúde e superfaturam contratos”, completou o magistrado.
Foram alvos dos mandados de prisão o ex-secretário de Saúde de Cuiabá, Huark Douglas Correia, Fábio Liberali Weissheimer, Adriano Luiz Sousa, Kedna Iracema Fonteneli Servo, Luciano Correa Ribeiro, Flávio Alexandre Taques da Silva, Fábio Alex Taques Figueiredo e Celita Natalina Liberali.
OS FATOS
A Operação Sangria II foi deflagrada nesta manhã de terça-feira. Na ação, a Polícia Civil cumpriu oito mandados de prisão preventiva e quatro de busca e apreensão.
A prisão foi necessária após os investigadores perceberem que os alvos da 1ª fase da operação, deflagrada em 4 de dezembro, vinham destruindo provas, coagindo testemunhas e usando de influência política para atrapalhar as investigações.
Segundo as investigações, o grupo formou organização criminosa com o objetivo de fraudar licitações e contratos firmados entre as empresas Proclin (Sociedade Mato-grossense de Assistência Médica e Medicina Interna), QualyCare (Serviços de Saúde e Atendimento Domiciliar LTDA), Prox Participações e o Município de Cuiabá e o Estado de Mato Grosso.
Entre os alvos da Operação está o ex-secretário municipal de Saúde, Huark Douglas Correia da Costa, suspeito até o momento de ser o líder da suposta organização.
As investigações apontam que o grupo, por meio de sua influência política, age para desclassificar empresas concorrentes em certames. Ao final, apenas as empresas da organização permanecem na disputa de contratos com a Administração Pública e, assim, acabam por ser escolhidas.
Nesta situação, a população se torna refém dos serviços prestados pelo monopólio, que decide se presta ou não serviços de qualidade nas unidades de Saúde Pública.
As investigações estão delimitadas pela PJC nos últimos seis anos. O objetivo é não deixar que o caso se torne muito amplo, complexo e vagaroso na punição aos supostos envolvidos.
O nome da operação foi escolhido em alusão à modalidade de tratamento médico, cuja prática exige o uso de sanguessugas ou flebotomia.