Operação Ragnatela desarticula núcleo de facção criminosa responsável por lavagem de dinheiro em casas de shows de Cuiabá

A investigação identificou que criminosos teriam adquirido uma casa noturna em Cuiabá, pelo valor de R$ 800 mil, pagos em espécie, com o lucro auferido por meio de atividades ilícitas

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A Força Integrada de Combate ao Crime Organizado de Mato Grosso (FICCO-MT) deflagrou, nesta quarta-feira (05.06), a Operação Ragnatela para cumprir mandados de prisão preventiva, busca e apreensão, sequestro de bens, bloqueio de contas bancárias e afastamento de cargos públicos, para desarticular um núcleo de facção criminosa responsável pela lavagem de dinheiro em casas noturnas.

Estão em cumprimento oito ordens de prisões preventivas, 36 buscas e apreensões, nove sequestros de bens imóveis e 13 de veículos; e ainda duas ordens de afastamento de cargos públicos (policial penal e fiscal da prefeitura), quatro suspensões de atividades (casa de shows) e bloqueios de contas bancárias.

A investigação da Ficco-MT identificou que criminosos teriam adquirido uma casa noturna em Cuiabá, pelo valor de R$ 800 mil, pagos em espécie, com o lucro auferido por meio de atividades ilícitas. A partir de então, o grupo passou a realizar shows de MCs nacionalmente conhecidos, custeado pela facção criminosa em conjunto com um grupo de promotores de eventos.

Foi identificado também que os integrantes da facção repassaram ordens para que não fosse contratado artista de São Paulo, tendo em vista ser o estado de outra facção, possivelmente, rival da que atua no estado de Mato Grosso. Por conta dessa ordem, o artista conhecido como MC Daniel foi hostilizado durante a realização de um show em Cuiabá, em dezembro de 2023, e teve que sair escoltado do local. O integrante da facção que promoveu o show foi punido pelo grupo com a pena de ficar sem realizar shows e frequentar casas noturnas em Cuiabá, pelo período de dois anos.

Durante as investigações também foi identificado que os criminosos contavam com o apoio de agentes públicos responsáveis pela fiscalização e concessão de licenças para a realização dos shows, sem a documentação necessária. A Ficco apurou ainda que um parlamentar municipal atuava em benefício do grupo na interlocução com os agentes públicos, recebendo, em contrapartida, benefícios financeiros.

Em continuidade à investigação, os policiais identificaram um esquema para introduzir celulares dentro de unidade prisional e transferências de lideranças da facção para presídios de menor rigor penitenciário, a fim de facilitar a comunicação com o grupo investigado, que se encontra em liberdade.

No último dia 1o de junho, foi identificado que dois alvos da investigação fugiram para o estado do Rio de Janeiro. Um deles é considerado o principal líder da facção criminosa investigada, atualmente em liberdade, e estava viajando com documentos falsos. Os criminosos foram abordados ainda dentro da aeronave, logo após o pouso no aeroporto carioca de Santos Dumont.

A Operação Ragnatela contou com apoio do Centro Integrado de Operações Aéreas de Segurança Pública (Ciopaer) e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado, força-tarefa permanente constituída pelo Ministério Público Estadual, Ppolícia Civil, PM, Polícia Penal e Sistema Socioeducativo.

A Ficco-MT é uma força integrada, composta pela Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Civil e Polícia Militar e tem por objetivo a atuação conjunta no combate ao crime organizado no estado do Mato Grosso.

Na decisão em que autorizou a Operação Ragnatela, da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO-MT), o juiz João Francisco Campos de Almeida, do Núcleo de Inquéritos Policiais (Nipo), determinou que Joadir Alves Gonçalves, um dos líderes da facção criminosa Comando Vermelho e responsável pelo esquema da compra de casas noturnas, e Wilian Aparecido da Costa Pereira, que seria “testa de ferro” de Joarid, fiquem presos no Raio 8 da Penitenciária Central do Estado (PCE), que possuo mais restrições. O intuito é impedir que continuem a liderar o bando de dentro do presídio.

Joadir e Wilian foram dois dos alvos que tiveram a prisão preventiva decretada. De acordo com os autos, Joadir Alves Gonçalves, vulgo “Jogador”, recebia o dinheiro de integrantes da parte operacional da fação e investia os recursos na aquisição de casas noturnas, assim como realização de show e eventos.

Jogador é considerado um dos principais membros da facção que estava em liberdade. Os ganhos que ele recolhia eram obtidos com a venda de drogas e outros pagamentos de valores (como da “lojinha”) em bairros de Cuiabá e Várzea Grande.

Já Wilian Aparecido da Costa Pereira, vulgo “Gordão”, seriam um “testa de ferro” de Joadir. O dinheiro recolhido por Jogador era entregue a Wilian, que então repassava para os operadores e promotores de eventos para custearem parte dos shows no Dallas Bar e outras casas noturnas.

O Dallas Bar, inclusive, foi colocado no nome de Wilian. Ele também utilizava a pessoa jurídica da empresa W A DA COSTA PEREIRA (EXPRESSO LAVA CAR). As investigações apontaram que ele era a peça principal que ligava Joadir aos eventos, além de ser responsável por pagar outras despesas de Jogador. Com base nessas informações o juiz determinou que eles permaneçam presos no Raio 8.

“Considerando a posição hierárquica destacada na facção criminosa Comando Vermelho, visando impedir que esses membros continuem exercendo liderança do interior do estabelecimento prisional – como de sói tem ocorrido – autorizo, desde que haja disponibilidade de vaga […], a alocação destes representados no raio 8 da PCE, local com mais restrições na comunicação, o que dificulta a continuidade delitiva”, justificou.

Operação Ragnatela

A Força Integrada de Combate ao Crime Organizado de Mato Grosso (FICCO/MT) prendeu na manhã de quarta-feira (5) um total de 8 pessoas e cumpriu 36 mandados de busca e apreensão em Mato Grosso e no Rio de Janeiro contra membros do Comando Vermelho que usavam casas noturnas em Cuiabá para lavar dinheiro do crime.

Ao todo, cerca de 400 policiais cumpre as ordens de prisão e de busca e apreensão. Há ainda sequestro de imóveis e veículos, bloqueio de contas bancárias, afastamento de servidores de cargos públicos e suspensão de atividades comerciais. As ordens judiciais foram expedidas pelo Núcleo de Inquéritos Policiais da Comarca de Cuiabá.

As investigações apontaram, por exemplo, que os criminosos que participavam da gestão das casas noturnas em Cuiabá utilizavam a estrutura para fazer show de cantores conhecidos, custeados pela facção criminosa em conjunto com um grupo de promoters.

Os acusados repassavam ordens para não que não fossem contratados alguns artistas de outros estados, com influência em outras organizações criminosas rivais, sob pena de represálias da facção.

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