Médicos do setor de pediatria do Hospital Municipal de Cuiabá (HMC) anunciaram uma paralisação de plantonistas nesta semana em decorrência do atraso no pagamento dos salários dos meses de setembro e outubro de 2022. Em nota a Empresa Cuiabana de Saúde Pública negou atraso nos repasses.
Os profissionais são ligados à empresa Family Medicina e Saúde e são terceirizados para atuar no HMC. Um denunciante, que não quis ser identificado, explicou que os médicos recebiam sempre 60 dias após o mês trabalhado. Os atrasos começaram em outubro.
“Por exemplo, em agosto nós recebíamos o mês de junho e assim sucessivamente, porém a partir de outubro eles começaram a atrasar. Teve um mês que ficamos sem receber e aí no mês de novembro nós recebemos referente ao mês de agosto. […] na metade do mês eles não nos pagaram mais, então o último pagamento já tem mais de um mês atrasado. Já estamos sem receber setembro e também outubro, que já era para ter caído em dezembro”.
Ele ainda disse que quando cobraram a Family foram informados que a Empresa Cuiabana de Saúde Pública não fez os repasses. Já quando cobraram a empresa pública, foram informados que a prefeitura não repassou os valores.
“Um fica jogando para o outro e eles não pagam nosso salário”, disse.
De acordo com o denunciante, mais de 20 médicos da pediatria estão nesta situação. Por meio de uma comunicação interna, encaminhada na segunda-feira (19), anunciaram que os plantonistas da enfermaria e emergência pediátrica farão uma paralização, em 48h a contar da entrega do comunicado, caso não haja regularização dos pagamentos.
Ele explicou que no HMC, no setor pediátrico, são 3 plantões por dia, sendo dois plantonistas para enfermaria e observação e um para emergência pediátrica, responsável por atendimentos vindos do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), além de casos de convulsões e afins. Ainda disse que a situação também é crítica na enfermaria adulta.
“O atraso no pagamento dos médicos desse e de outros setores do HMC tem se tornado um evento recorrente, apesar das cobranças sem sucesso […] Frisamos que o HMC é porta aberta para urgências e emergências […] A paralisação dos plantonistas pediátricos do hospital teria como consequência a falta de assistência para estes incidentes, levando a um prejuízo inestimável à população infantil cuiabana”, diz trecho do documento.
A reportagem tentou entrar em contato com a empresa Family Medicina e Saúde, mas não houve resposta.
Leia a nota da Empresa Cuiabana de Saúde Pública na íntegra:
Nota à imprensa
A Empresa Cuiabana de Saúde Pública (ECSP), que administra o Hospital Municipal de Cuiabá (HMC) comunica que:
– É INVERÍDICA a informação que a ECSP atrasa o salário de médicos. Todos os profissionais da ECSP estão com a folha de pagamento em dia.
– Ressalta, que a situação do pagamento de médicos (prestadores de serviço), que atuam nas Enfermarias Pediátrica e Adulta do HMC é com a empresa Family Medicina e Saúde, responsável pela contratação destes profissionais.
– A ECSP enfatiza o cumprimento do contrato com a referida empresa, sendo realizado os pagamentos para a terceirizada DENTRO DO PRAZO CONTRATUAL.
– Ressalta ainda, que é de responsabilidade da empresa contratada o repasse aos médicos, pois os profissionais não são funcionários da ECSP.
– A gestão e a ECSP prezam pela lisura e transparência de seus atos e só intervém na relação entre empresa terceirizada e seus funcionários quando houver risco na prestação dos serviços, fato que nunca ocorreu na atual gestão. Mas se houver necessidade o fará para garantia da manutenção do regular e pleno atendimento à população;
– Informa ainda, que este assunto será tratado na live de hoje (20), com transmissão às 19h05, na rede social do prefeito Emanuel Pinheiro pelo facebook e instagram.
Contrato com a Family
Investigado por corrupção na Secretaria Municipal de Saúde (SMS), o médico e empresário Milton Correa da Costa Neto, dono da Family Medicina e Saúde Ltda, firmou contrato com a Prefeitura de Cuiabá em junho deste ano, no valor de R$ 5.151.600,00, por 180 dias.
O médico é citado na Operação Overpriced, deflagrada em junho de 2021, que apura irregularidades desde excesso de compra de medicamentos, somada a sobrepreço até compras sem licitação.
Além dele, aparecem como acusados das práticas criminosas o ex-secretário Luiz Antônio Possas de Carvalho, secretário adjunto de Gestão da SMS, João Henrique Paiva, o adjunto de Planejamento e Obras, Milton Correa da Costa, e o adjunto de Atenção, Luiz Gustavo Raboni.
Por meio de nota a Prefeitura de Cuiabá justificou que “não há na Justiça nenhum impeditivo para a contratação desta empresa, que foi a que apresentou menor preço na cotação”.